Se se retiraram alguns ensinamentos das últimas eleições presidenciais de Janeiro de 2011, eles terão vindo das candidaturas que obtiveram os dois piores resultados: da candidatura cívica mas negativa de Defensor de Moura, que passou o tempo a pretender demonstrar-nos quanto Cavaco Silva era uma pessoa muito pouco recomendável (e, infelizmente, o tempo está a dar-lhe cada vez mais razão...); e da candidatura incívica e também disparatada de José Manuel Coelho, que conseguiu demonstrar quanto a comunicação social pode estar mais interessada em palhaçadas do que em assuntos sérios: no final do escrutínio (acima) a votação alcançada por Coelho foi idêntica aos votos em branco (aproximadamente 190.000 votos), mas as atenções mediáticas concentraram-se muito mais no seu estilo apalhaçado do que em procurar perceber as razões de um número equivalente de eleitores que, indo votar, preferiu não manifestar qualquer preferência por qualquer dos seis candidatos à escolha. Isto não esquecendo ainda o que poderia ser comentado sobre aquele milhão de eleitores que costuma comparecer nos actos eleitorais e que dessa vez decidiu não o fazer¹.
Perdoe-se-me a extensão do preâmbulo mas ele parece-me indispensável para explicar o que possa ter a dizer quanto à apresentação da candidatura presidencial de Henrique Neto. É uma candidatura que me faz lembrar as reacções despertadas pelo PPM histórico dos tempos de Gonçalo Ribeiro Teles: havia uma grande onda de simpatia pela formação mas não era por isso que ela recolhia votações significativas. Também aqui se suspeita que a simpatia que rodeia a iniciativa deste candidato presidencial não se consubstanciará em muitos apoios e intenções de voto e, pior que isso, há casos como o de Medina Carreira (recorde-se o episódio espalhafatoso mais abaixo em que ele contracena com o agora candidato e Mário Crespo), em que a exuberância do apoiante poderá até sabotar a seriedade das intenções do apoiado. Mas nada obsta a que a intenção de Henrique Neto seja a de uma candidatura cívica, talhada à sua personalidade, faltando-me perceber o que – de acordo com algumas reacções propagandeadas pela comunicação social – lhe faltará para estar a ser tratada com tanta condescendência quando comparada com outras proto-candidaturas da mesma área política que, por aí circulam, como se fossem para levar a sério e para ganhar: Sampaio da Novoa – quem?; Carvalho da Silva – como?
¹ Houve nessas eleições de Janeiro de 2011, apenas 4,5 milhões de eleitores. Houvera nas eleições presidenciais precedentes, em Janeiro de 2006, 5,5 milhões, e voltaria a haver outro tanto (5,6 milhões) nas eleições legislativas de Junho de 2011, dali por cinco meses.
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