Em 1945, a escassos meses do seu colapso, as eminências do III Reich começaram a delinear planos de contingência para o fim do Reich. Albert Speer (1905-1981), que era o ministro da Produção e Armamento, que acima vemos a acompanhar Adolf Hitler num dos seus passeios na Wolfsschanze, também concebera o seu plano para essa eventualidade: utilizaria um dos raros hidroaviões BV-222 de seis motores e longo raio de acção (6.000 km - abaixo) para fugir para a Groenlândia, onde esperaria passar desapercebido por uns tempos. Porém o destino quis doutra forma.
Sendo uma das faces mais benignas do nazismo, Speer foi escolhido pelo sucessor de Hitler, o Grande-Almirante Karl Dönitz (1891-1980), como um dos membros do seu efémero governo de três semanas de Maio de 1945. Quando, a 23 de Maio de 1945, os britânicos prenderam sem cerimónias o ministro que se barbeava antes de ir para o ministério, já há muito Speer se apercebera do quanto fora uma figura demasiado proeminente do regime nazi para conseguir desaparecer e fazer-se esquecido, mesmo num confim remoto da Terra como a Groenlândia. Veio a ser um dos réus do principal julgamento de Nuremberga, condenado a 20 anos de prisão, que cumpriu integralmente.
O nazismo porém, não se fez apenas só de chefes. Descendo as cadeias hierárquicas, vai-se encontrar dezenas, quiçá centenas, de milhares de responsáveis por aspectos que deram ao regime o seu carácter mais hediondo. E esses, ao contrário de Speer, puderam fazer-se esquecer. A fotografia abaixo é uma composição de apenas seis caras das várias centenas de cientistas alemães, chefias intermédias, que foram recrutados pelos norte-americanos após a guerra para prosseguir as suas pesquisas agora em benefício dos Estados Unidos, especialmente em alguns campos onde estes se sentiam ultrapassados: aero e astronáutica, química, alguns campos específicos da medicina – aqueles que poderiam ter aplicação militar no campo do armamento bacteriológico.
Nem todos os contratados seriam simpatizantes nazis, mas uma apreciável percentagem deles haviam-no sido, e responsáveis por práticas graves, como o emprego de internados nos campos de concentração para servirem de mão-de-obra escrava em complexos industriais ou como cobaias para experiências científicas. Alguns chegaram a ser julgados (...e condenados ...e perdoados) por isso. Da esquerda para a direita e de baixo para cima, que as suas proezas estão acessíveis nas respectivas entradas da wikipedia, acessíveis pelas ligações que fiz em cima de cada nome: o brigadeiro médico Walter Schreiber (1893-1970), o médico Hubertus Strughold (1898-1986), o químico Otto Ambros (1901-1990), o major-general Walter Dornberger (1895-1980), o engenheiro aeronáutico Kurt Debus (1908-1983) e o virologista Erich Traub (1906-1985), são exemplos de um fluxo de simpatizantes da causa que ficou baptizado com o nome de Operação Paperclip.
Sempre que me deparo com referências às idiossincrasias do carácter alemão, com evocações simplificadoras e provocadoras a um IV Reich (! - como o que fez recentemente o economista Stuart Holland) também me lembro do outro lado da moeda, a paródia de Leo Strauss, que ridicularizou esse género de argumentos, tão do gosto popular, com a expressão reductio ad hitlerum. O que me inquieta porém, na imagem balanceada que pretendo fazer da actualidade e para além do primarismo de algumas analogias da Alemanha moderna com a de há 70 anos, fazendo um paralelo entre as figuras do regime com visibilidade, como Albert Speer e Wolfgang Schäuble, é perceber quais são as disposições a respeito da Europa daquela massa discreta mas eficaz de burocratas alemães que, no caso do nazismo, foram os verdadeiros responsáveis por que umas ideias algo tresloucadas de um indivíduo se tornassem em muito mais do que umas ideias...
Não sei se não terá havido um empate técnico, entre os EUA e a URSS, na caça aos cientistas alemães.
ResponderEliminarNa corrida espacial, por exemplo, von Braun para um lado e Gröttup para o outro, foram as alavancas propulsoras dos dois campos...