01 outubro 2014

«L'INTENDANCE SUIVRA»

A propósito das complicações legais com que agora se depara o PS, causadas porque António Costa se tornou um vencedor político inequívoco mas eleito para um cargo sem significado algum na orgânica formal do partido, ouvi outro dia a João Soares na televisão uma expressão muito conhecida em França, que a tradição local atribui originalmente a Napoleão no sentido estrito militar da expressão e a Charles de Gaulle depois, quando ocupou a presidência (1958-1969), já num sentido político e mais abrangente: l’intendance suivra (a intendência há-de vir atrás) - ou seja: os detalhes menores têm que se vergar ao que é verdadeiramente importante. Empregue no contexto em que João Soares a empregou trata-se de uma expressão engraçada, embora de Gaulle tenha negado enfaticamente em plena televisão que a houvesse empregado, como se pode constatar acima¹. Vale a pena acrescentar que, como todos os políticos, também se sabe hoje de maneira irrefutável o quanto de Gaulle podia ser descaradamente mentiroso... Quanto a João Soares e à assertividade como o ouvi empregar a expressão, creio que valeria a pena enriquecer-se com a aprendizagem de alguns momentos históricos (especialmente da história moderna) em que a intendência lá acabou por vir, mas contrariada, e como as consequências disso foram desastrosas... Na guerra e não só.
¹ Jornalista: - Os franceses têm frequentemente a impressão que o senhor se preocupa sobretudo com a condução dos problemas da França mas dirigidos a um patamar mais elevado do que aqueles problemas com que eles próprios se confrontam, problemas quotidianos e materiais. Isso exprime-se numa forma esquemática, um pouco militar, dizendo-se que o senhor não se interessa muito pela intendência. Os franceses têm frequentemente a impressão que parece pairar sobre essas contingências.
De Gaulle: - É verdade que me atribuem essa expressão que eu nunca empreguei, tanto mais que nunca pensei dessa maneira, que a intendência há-de vir. São aqueles cabeçalhos para os jornais. Não preciso de lhe acrescentar o que acho deles.

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