As cidades fantasmas tradicionais das histórias costumam
situar-se no velho Oeste americano, são o resultado do fervor súbito por um
minério nobre – o ouro, de preferência – que se localizam normalmente num filão que se vem a
revelar escasso e que rapidamente se esgota. De todos essas características lendárias,
Pyramiden (acima, à direita, o monumento da cidade) apenas cumpre a de ser uma genuína
cidade fantasma.
Pyramiden (Пирамида no original) foi uma
cidade russa/soviética localizada no Arquipélago de Svalbard, junto ao círculo
polar árctico (vejam-se os mapas acima), que chegou a contar com cerca de um milhar
de habitantes que trabalhavam à volta de uma concessão mineira…mas de carvão. Instalada
em território norueguês mas explorada por soviéticos a cidade era simultaneamente uma vanguarda do império soviético e um
mostruário do socialismo.
É assim que, apesar de a cidade ter sido abandonada em 1998, ainda
se podem encontrar nas paredes que o tempo congelou cartazes demonstrativos de uma rivalidade confrontacional
de guerra-fria, como este soldado soviético que apela em várias línguas: Para
Oeste! Muito melhor que isso, não há como um busto de Lenine bem preservado deixado para trás para
nos evocar o sabor especial do socialismo dos bons velhos tempos…
Mas os poucos anos pós-soviéticos ainda foram suficientes
para que a cidade gelada se enfeitasse com os símbolos esquecidos e recuperados da Rússia
eterna, a de Ivã-o-Terrível e de Pedro-o-Grande. Ao fundo, mesmo defronte do
Lenine mais setentrional da Terra, pode reconhecer-se um urso polar que se passeia orgulhoso
pelo topo do Mundo com a paisagem árctica por detrás - como que questionando Lenine se a sua ideologia será indispensável para o destino imperial da Rússia.
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