Em quaisquer referências cronológicas de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial tornou-se um must dar destaque à decisão governamental de, a 3 de Maio de 1945, a dias da derrota alemã, ter decretado três dias de luto oficial pela morte de Adolf Hitler. Com esse destaque, de um gesto que parecerá absurdo, mas apenas se considerarmos os padrões políticos da posterioridade, fica inequivocamente estabelecida a parcialidade pró-Eixo do regime de Salazar ao longo do conflito. O assunto parece ter tornado tão pacífico que nem vale a pena questioná-lo… a não ser os que o queiram investigar para o compreender.
Relativizando-o,por esses mesmos dias dos princípios de Maio de 1945, enquanto Salazar ordenava que as bandeiras portuguesas fossem içadas a meia haste, um outro dirigente de outro país que permanecera neutral, o irlandês Éamon de Valera, ultrapassava-o em deferência para com os representantes alemães acreditados no seu país, indo apresentar pessoalmente as suas condolências à embaixada alemã em Dublin, conforme se pode ler acima num recorte do Irish Times de então. Aquele gesto de Eamon de Valera permanece controverso até hoje, embora o próprio permaneça imaculado da acusação de simpatias ideológicas para com o nazismo…
Lendo um outro recorte, este de um jornal português, percebe-se como a atitude de hastear as respectivas bandeiras nacionais a meia-haste (a manifestação do sinal de luto) foi comum a todos os países neutrais, desde a ideologicamente suspeita Espanha às insuspeitas Suécia e Suíça. Não se costuma referir isso, mas a atitude portuguesa foi genericamente idêntica à de todos os outros países neutrais. Outra omissão fundamental é a de esquecer que estas atitudes têm de ser avaliadas tomando em consideração que, menos de três semanas antes de Adolf Hitler, um outro importante chefe de Estado havia morrido no exercício do cargo…
As referências cronológicas do Portugal da Segunda Guerra Mundial costumam esquecer-se de o mencionar, mas Franklin D. Roosevelt, o presidente dos Estados Unidos, morrera a 12 de Abril de 1945. É assim que para Portugal e para os restantes países neutrais, a atitude que adoptaram com o anúncio da morte de Adolf Hitler foi condicionada pela que fora adoptada previamente por eles no caso do presidente norte-americano. Para que conste: dessa outra vez Salazar fizera o que depois não fez por ocasião da morte de Hitler: foi apresentar pessoalmente os seus pêsames à embaixada americana. Na Irlanda, Éamon de Valera, porque detestava Roosevelt (e o sentimento era recíproco), não o fez. A verdade às vezes é fodida.
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