Já lá vão muitos anos, a Piaggio procedeu a um rejuvenescimento
estético da sua Ape 50, uma motorizada carrinha (acima) dedicada a uma
clientela muito específica, conforme se percebia pelo anúncio televisivo: numa ignorada
estrada alentejana um pachorrento condutor de uma delas era interceptado por um
guarda da BT.
– Bonito… – resmungava o guarda.
– E confortável! – exaltava o condutor.
– E os faróis?...
– São dois!
– …pois. E a carta?
– Oh chouguarda…, atão ê fiquei de lhe escrever, foi?...
Ocorreu-me o quanto se precisa deste mesmo espírito de desentendimento malicioso para comentar a notíciada atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia. …Da Paz? Então a União
esteve (ou está) à beira de uma Guerra, foi?...
Mais a sério, reconheça-se que o
projecto europeu, iniciado em 1958 e de que a actual União Europeia é herdeira,
foi responsável pela criação de um ambiente pacífico que o continente não conhecera até então. O
que se questiona é a oportunidade desta atribuição precisamente agora, ao fim
de mais de 50 anos. Entretanto, o projecto também já mostrou os limites das
suas capacidades: durante a década de 90, a Jugoslávia desagregou-se de forma
sangrenta perante a impotência da União mais as políticas externas autónomas
dos seus membros mais poderosos. Será este gesto da concessão do Nobel, entre outras intenções, um estímulo para que a União
tente gerir de forma pacífica outras secessões que se anunciam, como a da
Catalunha e a da Escócia?...
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