25 outubro 2012

A QUEM PERTENCERÁ O «AMANHû?


Não considero a utilização desta cena do filme Cabaret (1972), onde a interpretação convicta de um cantor da juventude hitleriana galvaniza toda uma esplanada de convivas na Alemanha de Weimar, como uma evocação muito original. Mais. O impacto da cena é capaz de já ter sido muito malbaratado pela sua repetição pelos antifascistas do costume que, nestes quarenta anos passados, andaram sempre prestos a alertarem-nos para os lobos dos totalitarismos, que muitas vezes não passavam de latidos de cachorros, e mesmo nestes, só cachorros de algumas espécies que, na perspectiva dos antifascistas so costume, alguns totalitarismos de esquerda até podiam ser protagonizados por bichinhos felpudos

Regressando ao significado da cena, seria simpático que Passos Coelhos e a trupe dele tivesse uma coisa por certa: se chegar o amanhã que o puto – deus nos livre disso – canta e considera seu – a canção intitula-se O Amanhã pertence-me – o actual primeiro-ministro português irá juntar-se a um caixote de lixo muito selecto, atestado de manobristas políticos (como os alemães von Papen ou von Schleicher) que não se aperceberam que estavam a presidir a uma tal mudança na sociedade tal que as regras políticas que os haviam levado até ali já não lhes valiam para nada para lá se perpetuarem…

Nota: Para quem gosta de analisar estas situações de debilidade perante o exterior de uma perspetiva financeiramente rigorosa, como parece ser o caso da equipa de Vítor Gaspar, convém tomar em consideração que enquanto o moço arrebatava a esplanada com a sua interpretação sobre o futuro, um outro (o terceiro...) plano mais suave de pagamentos devidos pela Alemanha aos Aliados vencedores da Primeira Guerra Mundial (o Plano Young) estava a entrar em colapso, apesar da suavidade do ritmo dos reembolsos estabelecidos para esse futuro, agora escalonado por um horizonte de 59 anos – i.e., a Alemanha teria acabado de pagar a dívida em 1988! Idiomaticamente, poder-se-ia escrever que a Alemanha acabou por não pagar a ponta de um corno. Em rigor, e porque não é pertinente excedermo-nos colossalmente na descrição da situação, é mais rigoroso escrever que a Alemanha terá pago a ponta dos ditos mas não mais.

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