Hoje aconteceu com a UBS, mas tornou-se um costume rotineiro as
multinacionais tentarem amenizar o fracasso dos seus resultados financeiros
anunciando-os acompanhados de planos de redução de pessoal que se cifram semprepelos milhares de trabalhadores despedidos – uma espécie de sublimação pelos
milhões em falta nos lucros. São
daqueles anúncios que se anunciam à jornalista: desacompanhados de qualquer
reflexão do significado do que se anuncia: se a empresa se permite prescindir
de todos aqueles milhares de trabalhadores, um de dois cenários se justifica:
a) a contribuição do seu trabalho é relevante e o seu despedimento vai ter impacto nos
resultados futuros da empresa o que é preocupante para a sua rentabilidade em bolsa; ou então b) essa contribuição é irrelevante e então o despedimento anunciado deveria
incluir os próprios gestores que a anunciam, porque demoraram tempo demais a
aperceber-se dessa ineficácia.
Na realidade, estes anúncios parecem possuir a seriedade de uma peripécia de telenovela de
hora de almoço: não me lembro da publicitação de qualquer relatório da execução
destas magnas reduções de pessoal apesar de sempre anunciadas com espalhafato. E o facto
da UBS ser uma organização pouco simpática, conhecida pelo seu eclectismo na
cativação de clientes (acima), torna a produção de um desses relatórios ainda
mais improvável. Mas suponho que o perigo não se centrará no despedimento dos
tais dez mil trabalhadores da UBS, despedimento esse que, se calhar, nem virá a
ter lugar: centra-se na leveza como o anúncio é feito, na sua contribuição
para a recriação de um certo espirito de menosprezo pela condição humana – parecido com o de há cem anos atrás, temperado de outros eventos
jornalísticos interessantes que já não se estranha reaparecerem: abaixo a notícia de 1919 do atentado contra Alfredo
da Silva, que era então o patrão da CUF…
Sem comentários:
Enviar um comentário