Estou convencido que
será tudo menos inocente o destaque dado hoje pelo Correio da Manhã à decisão da Assembleia Municipal de Ponte da Barca para que não se extinguisse nem fundisse
nenhuma das 25 freguesias que compõem o
concelho. Segue-se a fundamentação: a reforma, que se afigura desajustada, não serve a vontade dos
cidadãos de Ponte da Barca, colocam em causa a coesão concelhia e não se
perspectivam quaisquer vantagens, económicas, financeiras ou outras, quer para
as populações, quer para o país. Isto, há que dizê-lo porque os tempos não estão para
pruridos ou eufemismos, é uma conversa de merda.
Observemos então com algum detalhe este concelho de Ponte
da Barca mais as suas 25 freguesias como exemplo dos anacronismos
administrativos defendidos pelo lóbi autárquico que este governo, prometendo, afinal não tem coragem
de enfrentar. De acordo com os dados oficiais do último censo populacional em
2011 Ponte da Barca tinha 12 061 habitantes. Confronte-se isso com o facto de
nas eleições legislativas desse mesmo ano estarem ali registados 14 432
eleitores… Algum milagre da gestão autárquica permitiu criar este excesso de
20% de eleitores fantasmas¹ que acarta consigo lugares extra na vereação e
na representação.
Não surpreenderá que, dado esse carácter disperso e difuso do
eleitorado potencial (haverá algum de entre os excedentários que ainda
residirão no concelho mas que terão tido dificuldades em se deslocarem do
cemitério até à secção de voto…), a afluência às urnas nessas eleições que
conduziram à constituição da actual maioria fosse inferior a metade da possível - 47,91% - o
que correspondeu a 6 915 votantes. Comprove-se que a coligação no poder ganhou
em Ponte da Barca com 57,56%. As populações em nome das quais não se
perspectivam quaisquer vantagens, etc. deram nessa altura uma maioria inequívoca aos partidos do actual
executivo.
Mas não estarão dispostos a que lhes mexam nas suas
queridas freguesias. Registe-se, para referência, que nessas eleições houve
276,6 votantes em média (6915/25) por cada uma das 25 freguesias de Ponte da Barca.
Comparemos então esses números com uma discretíssima freguesia urbana, a de
Barcarena (gostei da semelhança dos nomes…) do concelho de Oeiras nos arredores
de Lisboa: houve aí mais votantes (7 307) do que em todo o concelho de Ponte da
Barca… O facto não surpreenderá se soubermos que os dados do censo já referido
acima demonstram que a população da freguesia (13 861) é superior à do concelho minhoto.
Haverá centenas de exemplos como Ponte da Barca…e milhões em despesas supérfluas para sustentarem esse aparelho administrativo desnecessário: a questão das distâncias é hoje marginal. O lóbi autárquico controla as concelhias dos partidos e estes, quando no poder, não conseguem reformar administrativamente o país porque isso implicaria que se reformassem a si próprios. Isso não fazem, a não ser que… a classe média urbana, a que agora se lhe está a ir aos bolsos, não se disponha a contribuir mais para a preservação, entre outras coisas, deste retrato bucólico de um Minho saído das páginas de Júlio Dinis.
Comentário adicional: no vídeo, note-se a indignação (aos 0:18) de um autarca que será muito provavelmente social-democrata (pela forma familiar como se dirige a Miguel Relvas), num discurso consistente com a atitude de quem se sente atraiçoado por uma cumplicidade partidária que não lhe está a ser retribuída...
Ah, pois é. Aquele Portugal profundo e dos "bons" valores.
ResponderEliminarNão tenho capacidade para colaborar com vocês nesta página . Faltam-me estudos aos quais não tive direito
ResponderEliminarHoje é tarde estou perto dos 75 anos, mas gosto de ler e aprender