8 de Outubro de 1973. Guerra do Yom Kippur. Dois dias depois da ofensiva egípcia, que havia feito as suas tropas atravessar o canal do Suez e penetrar na península do Sinai, as tropas israelitas desencadeiam uma contra-ofensiva, operação que se virá a revelar um fracasso. Concebida como uma manobra táctica que ceifaria por detrás as ligações logísticas das unidades combatentes egípcias (ver o mapa acima), a acção fracassou. Ao contrário do que acontecera em 1967, os egípcios estavam agora muito bem apetrechados e treinados em armamento anti-tanque (AT-3 Sagger e mesmo RPG-7), que neutralizou as concentrações blindadas israelitas que haviam feito o sucesso da Guerra dos Seis Dias.
Nesta contra-ofensiva, os israelitas não só não haviam progredido grande coisa no terreno como, ainda por cima, haviam perdido 73 carros de combate num só dia, número que corresponde a 42% do total inicial de 172 da divisão blindada (e a quase 10% do seu parque total...). Os egípcios, remetidos à defesa, haviam perdido, quanto muito, uma trintena de tanques - e os tanques soviéticos sempre foram de qualidade muito inferior aos ocidentais. Pior: a divisão havia perdido, entre mortos, feridos e capturados, três dos seus nove experientes comandantes de batalhão. A Comissão Agranat irá ser muito severa para com as decisões dos comandantes militares nesta frente do Sinai nesta fase da guerra.
Contudo, tão importantes quanto estes desfechos tácticos, era a conclusão estratégica que o ritmo de desgaste material desta guerra iria obrigar a um envolvimento logístico sério por parte das duas super-potências para reabastecerem os dois lados combatentes (Israel de um lado e Egipto e Síria do outro). Já aqui se mencionou o caso dos Estados Unidos e Israel, que nos envolveu directamente por causa da base das Lajes. Mais discreto foi o caso dos soviéticos e a sua ponte aérea de material de guerra para os países árabes. Mas ela existiu, como se percebe pela passagem abaixo*, em que se nota - já então! - a atitude pró-russa (e anti-americana) da Turquia, apesar de pertencer à NATO!
No total, os Estados Unidos transportaram 22.325 toneladas de equipamentos militares por via aérea a partir de 12 de Outubro de 1973. Os soviéticos entre 12.500 e 15.000 toneladas. Uma boa razão para recordar este episódio de há cinquenta anos é fazer compreender melhor aos eventuais leitores deste blogue quais são os problemas do recompletamento do material de guerra nas fases mais acesas de uma guerra moderna, como a que se trava na Ucrânia**. Compreender como se revela importante, mas também complicado, substituir todo aquele equipamento que é destruído, no caso de se tratar de um país beligerante que não tem meios industriais para o poder substituir àquele ritmo, por si próprio.
* A passagem, assim como o mapa inicial e a avaliação da batalha de 8 de Outubro constam do livro «La Guerre Israélo-Arabe d'Octobre 1973» de Pierre Razoux, Economica 1999 já aqui mencionado.
**Este texto havia sido preparado antes dos ataque do Hamas a Israel. Apesar da belicosidade das declarações do 1º ministro israelita, ainda não se trata bem de uma guerra, pelo menos com as dimensões e gravidade da do Yom Kippur.
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