(Republicação)
Já aqui me referira à Batalha de Wake, uma batalha que foi muito explorada para efeitos de propaganda pelos norte-americanos, transformada num filme épico de resistência das suas armas à expansão japonesa, mas que culminou numa derrota, mesmo assim, em finais de Dezembro de 1941. Anormal para as circunstâncias em que se travava a guerra dos atóis do Pacífico foi que, conjuntamente com os cerca de 400 militares sobreviventes da guarnição, os japoneses haviam capturado mais de mil prisioneiros civis, trabalhadores da construção encarregados da ampliação das infraestruturas, que, tendo também colaborado na defesa da ilha, foram tratados de igual modo pelos japoneses.
A maioria dos prisioneiros foi transportada para campos de prisioneiros no Japão e na China. Porém, passados seis meses depois da conquista, ainda não se havia conseguido concluído esse transporte quando os japoneses perderam a superioridade militar na Guerra do Pacífico depois da decisiva derrota na Batalha de Midway. As comunicações de Wake com o exterior tornaram-se muito mais difíceis, atormentadas pelos ataques tanto da aviação como dos submarinos norte-americanos. Wake estava totalmente dependente dos reabastecimentos do exterior. E assim, para poupar bocas inúteis e por receio de um desembarque eminente dos norte-americanos, o comandante da guarnição, Shigematsu Sakaibara, mandou executar friamente os 98 prisioneiros remanescentes na ilha em 5 de Outubro de 1943. Há precisamente 80 anos.
Aconteceu que um dos prisioneiros escapou e teve tempo para gravar uma rocha assinalando o que ocorrera (fotografia mais acima). Mas era impossível um prisioneiro manter-se evadido numa ilha onde 2.000 japoneses estavam compactados em 6 km². Foi recapturado e terá tido o privilégio de ser pessoalmente decapitado por Sakaibara. Os japoneses não atribuíram importância à rocha até à capitulação japonesa, que em Wake só se veio a verificar a 7 de Setembro de 1945, 4 dias depois da assinatura da rendição em Tóquio. Os vencidos terão sido até imensamente prestáveis (acima). Só depois os vencedores se aperceberam daquilo que acontecera. A fotografia do julgamento de Sakaibara, em que ele aparece, de gravata, em uniforme norte-americano e não como o almirante da Armada imperial japonesa que era, antecipa a sentença…
Shigematsu Sakaibara foi executado por enforcamento em 19 de Junho de 1947. No seu último depoimento dizia que considerava o seu julgamento completamente injusto e a pena a que fora condenado demasiado severa mas que, apesar de tudo, submetia-se a ela com prazer…
Sem comentários:
Enviar um comentário