25 outubro 2023

QUANDO UM PARTIDO NO PODER COLAPSA... E A COMUNICAÇÃO SOCIAL SÓ DESCOBRE À ÚLTIMA DA HORA

(Republicação, porque este é um dos casos mais espectaculares de manipulação de sondagens)
25 de Outubro de 1993. Realizam-se eleições gerais no Canadá e os resultados são um daqueles raros episódios em democracias consolidadas, onde o partido que está no poder colapsa fragorosamente. O partido conservador, liderado à época pela primeira-ministra Kim Campbell (a primeira, e até hoje a única, mulher a ocupar aquele cargo no Canadá), passa dos 43% que recebera nas eleições de 1988 para uns míseros 16% dos votos. Mas isso nem é o pior. Por causa do sistema eleitoral canadiano, de tradição britânica, onde cada candidato disputa individualmente a eleição no seu círculo eleitoral, os deputados conservadores passaram de uma maioria de 169 (num parlamento com 295 lugares) para... 2. Remate de humilhação: nem a própria primeira ministra foi reeleita no círculo por onde se apresentara. Foram os liberais, a tradicional formação política que costuma alternar no poder em Ottawa, que assumiram o poder com Jean Chrétien como primeiro-ministro, apoiado numa maioria de 177 lugares. Mas o mais interessante que recordo de todo este episódio é como ele chegou sem se fazer anunciar: se se consultar aquilo que as sondagens anteviam, ainda um mês antes das eleições elas mostravam um equilíbrio entre conservadores (PC) e liberais (Lib). Só com o aproximar da data das eleições é que o panorama se foi progressivamente alterando até aderir aos resultados. Naquele tempo eu concluí que se tratara de uma evolução acentuada e brusca da opinião pública. 30 anos depois, escaldado por inúmeros enganos inaceitáveis e incompreensíveis em sondagens eleitorais, tendo a aceitar melhor a hipótese que houve de facto «uma evolução acentuada e brusca», mas da opinião publicada. Não havendo explicações exógenas anómalas (como foi este caso), as opiniões públicas tendem a mudar de opinião muito mais lentamente do que as sondagens abaixo mostram...

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