02 outubro 2023

COREOGRAFIA DOS BOICOTES

A história resume-se assim: a freguesia de Arroios organizou uma «festa dedicada ao livro independente». Na cerimónia do encerramento (que foi ontem, Domingo), estava prevista uma conversa entre os setentões intelectuais Jaime Nogueira Pinto e José Pacheco Pereira, que iriam falar sobre «o impacto que a ficção científica» e «a banda desenhada» «tiveram numa geração» (que, não por acaso, é a deles...) É o que se pode ler na primeira parte do texto mais acima, conforme foi noticiado no Diário de Notícias. Não se tratava de nada que arrastasse multidões, mas que, mesmo assim, foi pretexto para que houvesse uma «ameaça de boicote de editoras», conforme noticia por sua vez o jornal Observador. O boicote - que o detalhe da notícia específica que terá sido realizado por uma editora e duas livrarias... - era justificado pela presença de Jaime Nogueira Pinto, apodado de «expoente da extrema direita». O episódio, para além de ridículo e de não ter significado especial, tem, ainda assim, todas as condições para ser publicitado - pelo Observador - promovendo a vitimização de um Jaime Nogueira Pinto que, aparentemente, ia só ali falar de ficção científica e de banda desenhada. E escrevo isto não apreciando particularmente Jaime Nogueira Pinto a falar seja do que for...

4 comentários:

  1. Que me lembre,nunca a BD foi tema dos "Radicais Livres",mas gosto das conversas,ao Sábado,entre o Jaime Nogueira Pinto o Pedro Tadeu,e a Flor Pedroso

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  2. Já ouvi Jaime Nogueira Pinto a referir-se, quando o assunto é BD, ao incontornável «Cavaleiro Andante» que foi a revista daquele tema incontornável para a geração dele (a mesma de Pacheco Pereira), publicada durante a década de 1950. Quanto à «ficção científica», o previsível é que a conversa dos dois girasse à volta dos títulos de bolso da colecção argonauta, precisamente daquela mesma década. E, não sabendo, porque lá não estava, desconfio que tivesse sido assim... Nada de ameaçador quanto a «expoentes de extrema direita»...

    Só cá faltava que, na década de 70, e ainda a propósito de Banda Desenhada, se boicotassem os programas de Vasco Granja, só por ele ser militante comunista.

    E, por falar nisso, e agora abordando o assunto dos "Radicais Livres" que o Paulo menciona, aquele programa radiofónico é a demonstração evidente que, em ambos querendo, um fascista e um comunista, quando inteligentes, conseguem entender-se muito bem. É preciso é que se queiram entender e não se ataquem... Sabe, Paulo? Têm mais coisas em comum do que aquilo que gostam de confessar...

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  3. É como diz,são duas pessoas civilizadas,entendem-se , respeitam-se,e já acontecia quando o Ruben de Carvalho era vivo e estava no lugar do Pedro Tadeu.
    Boicotar um evento sobre BD por lá constar o JNP, "não lembra ao careca"utilizando uma expressão do fala-barato de Belém.

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  4. Jaime Nogueira Pinto tem-me sido uma figura útil para "matar" conversas ultrajadas sobre deserções durante as guerras de África. Sendo um desertor confesso do exército português, basta-me trazer o seu exemplo para a conversa, que os ultrajados mudam "estranhamente" logo de atitude e as críticas aos desertores morrem logo ali...

    Quanto a civilidades entre ele e os comunistas, também me lembro do Jaime Nogueira Pinto no programa «Os Grandes Portugueses» a terçar argumentos em prol de Salazar (que ganhou o concurso), em conflito directo com Odete Santos que terçava argumentos em prol de Álvaro Cunhal (que ficou em 2º lugar). Esta invocava indignada que «a apologia ao fascismo era proibida pela constituição»... Só que o Salazar estava a concurso desde o princípio do programa e ela só se "lembrou" dessa inconstitucionalidade quando a figura do "Botas" ganhou o concurso...

    Aí, ele passou o programa todo sem dirigir a palavra sequer a Odete Santos...

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