15 janeiro 2022

A BATALHA DO MAR DE ARAFURA

Para explicar os antecedentes desta pequena batalha naval de há 60 anos, convém frisar que, quando a Indonésia alcançou a independência em 1949 (assinalado no mapa acima a vermelho), o novo país, apesar de ameaçado por diversos movimentos separatistas (Aceh, Molucas), possuía, ainda assim, ambições territoriais em direcção a três colónias vizinhas. A Malásia (assinalada a cor de laranja), pela qual a Indonésia chegou a travar um conflito intermitente na ilha de Bornéu com os britânicos entre 1962 e 1966; Timor (assinalado a verde) que os indonésios ocuparam em 1975 a pretexto do vácuo da autoridade portuguesa e que tiveram de desocupar quando finalmente organizaram um referendo que não perceberam que lhes iria correr muito mal(1999); e finalmente a Nova Guiné Ocidental (assinalada a azul claro), colónia holandesa adjacente mas independente da Indonésia, que aqueles continuaram a administrar depois de 1949 e pela qual se travou esta batalha naval do Mar de Arafura.
A Nova Guiné era em 1949 (e continuava a sê-lo em 1962) um dos sítios mais recônditos do mundo, a segunda maior ilha do Mundo com 786 000 km², um clima inóspito e uma população (especialmente no interior) sobre a qual se sabia muito pouco: o que se sabia é que havia uma estrutura tribal enraizada e também que havia pouca convivência entre as tribos: no total, falam-se 1.073 idiomas distintos! Em 1884, a ilha fora dividida em três colónias: a Alemanha ficara com a parcela de Nordeste, o Reino Unido (através da Austrália) com a de Sudeste e a Holanda com a metade Ocidental. Em consequência do desfecho da Primeira Guerra Mundial (1919), os australianos acabaram depois por ficar com a metade Oriental. Era essa a situação em 1949, quando a Holanda resolveu reter a administração da colónia para vir a dar aos seus habitantes a futura possibilidade de, em regime de autodeterminação, se unificarem com a colónia britânica (que viria a alcançar a independência em 1975).
As ambições da Indonésia eram outras: anexar a Nova Guiné Ocidental. E as relações entre a ex-colónia e a antiga metrópole não eram, por isso, propriamente as melhores. Os holandeses mantinham naquelas águas meios navais importantes, um destroyer, duas fragatas (HNLMS Evertsen, mais acima), para demover os indonésios das suas intenções agressivas. A operação que estes últimos lançaram em 15 de Janeiro de 1962 consistiu em transportar 150 comandos em três lanchas rápidas para os desembarcar clandestinamente em território da Nova Guiné. Porém, os holandeses conheciam a operação de antemão e haviam posto aeronaves P-2 a patrulhar o Mar de Arafura. Uma delas encontrou as lanchas e os navios holandeses dirigiram-se para as interceptar. A clara superioridade de fogo dos holandeses fez com que uma das lanchas fosse afundada e as outras duas destruídas. Entre os mortos da batalha naval contou-se o comandante da flotilha indonésia, o comodoro Yos Soedarso.
Do ponto de vista estritamente militar, o desfecho da batalha, a vitória holandesa, foi inequívoca. Mas o aproveitamento político das acções militares consegue subverter essa lógica. Para que se esquecesse a imprudência do comodoro, ele veio a ser transformado em mártir nacional. Em Portugal (acima), quiçá por uma solidariedade instintiva entre potências coloniais, as simpatias iam inequívocas para com a Holanda. Mas esta iria desistir rapidamente da sua intenção: não querendo arcar com os custos de um conflito, ainda que de baixa intensidade, com a Indonésia, através da mediação americana, a Holanda veio a ceder os seus direitos administrativos à ONU, que por sua vez os cedeu à Indonésia em Maio de 1963. Uma hipocrisia total. A Batalha do Mar de Arafura acabou recontada de uma certa maneira diferente entre a Marinha de Guerra da Indonésia (TNI-AL), mas o processo como um desastre naval se pode transformar num sucesso político (e vice-versa...), não lhes deve ter escapado quando foi a vez deles interceptarem o Lusitânia Expresso no Mar de Timor em 1992...

4 comentários:

  1. Porém, os holandeses conheciam a operação de antemão

    De que forma é que conheciam? Por espionagem? Por terem quebrado o código secreto dos indonésios? Ou quê?

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  2. Para mim, o que é importante nos resultados de um serviço de informações militares, é conhecer com antecedência quais são as intenções do inimigo.

    Como elas foram obtidas é, para mim e creio que para o leitor normal desde blogue, irrelevante para a história.

    Mas se o Lavoura coloca tantas questões porque é que não se torna útil para além de curioso, e vai investigar entre a bibliografia que existe, para poder responder às questões que o Lavoura coloca?

    Como foi que os holandeses souberam antecipadamente da data e hora da operação indonésia?Como foi que os holandeses souberam antecipadamente da data e hora da operação indonésia? Foi por Humint? Foi por Sigint?

    E, já que o Lavoura vai à procura de pormenores supérfluos, espero que descubra como é que morreu o comodoro Soedarso. Foi atingido pelo fogo dos holandeses? Ou afogou-se?

    E quem comandava a flotilha holandesa?

    Fico à espera da sua resposta. Ou quê?

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  3. Porque a ONU deu a Indonésia? E não anexou a ilha toda em um só país?

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    1. Se o Unknown faz mesmo questão de colocar questões que julga que o fazem parecer inteligente, então pergunte ao Lavoura.

      Estou há quinze dias à espera de uma resposta dele.

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