10 de Janeiro de 1972. Chegada triunfal a Dacca, a capital do recém independente Bangladesh, do xeque Mujibur Rahman. Só com o retorno daquele que era considerado o pai daquela pátria se pode considerar encerrado o complicado processo que culminou com a divisão do Paquistão e a fundação da nação bengali predominantemente muçulmana. Essencialmente, e no grande xadrez estratégico, este desfecho é uma uma vitória do Bangladesh e, por associação, dos seus aliados, a Índia e a aliada desta, a União Soviética, ao mesmo tempo que é uma clara derrota paquistanesa e dos seus grandes aliados, os Estados Unidos e a China. Por sinal, tudo isto está a acontecer enquanto discretamente Henry Kissinger estava a realizar, via Paquistão, a manobra de aproximação à China que culminará com a visita do presidente Richard Nixon àquele país em Fevereiro de 1972. Essa virá a ter promoção. Este fiasco da diplomacia norte-americana é que nem por isso.
a nação bengali predominantemente muçulmana
ResponderEliminarNo Bangladeche a ênfase é posta no caráter bengali do país, ao contrário daquilo que acontece no Paquistão, onde a ênfase é posta no caráter muçulmano. No Paquistão o islamismo é religião de Estado, no Bangladeche não é.
Essa referência à «nação bengali predominantemente muçulmana» está escrita assim para a distinguir da nação bengali na globalidade. E esta é composta não apenas pelo Bangladesh mas também pelo estado indiano de Bengala Ocidental, cuja capital é Calcutá.
ResponderEliminarEm contas redondas e tomando em consideração os censos de 2011, o Bangladesh tinha então 150 milhões de habitantes, dos quais 90% eram muçulmanos e 8,5% hindus; Bengala Ocidental contava com 90 milhões de habitantes, mas onde 70% eram hindus e 27% muçulmanos.
Ou seja, na grande região natural de Bengala, formada pelo delta da confluência do Ganges e do Bramaputra (270.000 km²) viviam em 2011 240 milhões de pessoas, falando predominantemente o bengali, e onde aproximadamente ⅔ das pessoas professavam a religião muçulmana (especialmente a oriente) e cerca de ⅓ eram hindus (concentrados nas regiões ocidentais). E no entanto, subsistem as fronteiras políticas que foram criadas pela Partição da Índia em 1947. Já aqui me referi ao assunto há pouco tempo mas, por muito leitor interventivo que se exiba, pelos vistos você não aprende nada, Lavoura.
Há 50 anos e na perspectiva indiana, por muito que eles tivessem sido os vencedores do confronto com o Paquistão, era limitar as consequências do apelo nacionalista de Mujibur Rahman, não fosse a secessão dos bengalis do Paquistão fosse sucedida por outra dos bengalis da Índia. Ou seja, e é esse o sentido da frase citada, tratava-se da independência dos bengalis, mas apenas daqueles que faziam parte do Paquistão...
Sobre estes assuntos respeitantes àquele subcontinente, eu tenho sido enfático na insistência que, devido à sua complexidade e ao facto de terem uma cobertura mediática muito desenvolvida, se tornam indispensáveis algumas leituras suplementares a respeito da região.
E no entanto, cá o temos, Lavoura, de wikipedia em riste, depois de ter lido - até em inglês! - uma "coisa" aqui, mais «outra» acolá, que o «auto-convencem» opinar convictamente, numa comparação que é completamente descabida para quem conheça a história da formação do Paquistão.
Lavoura: você não tem emenda...
Eu já aqui falei do «Efeito Dunning-Kruger», a capacidade de alguém se auto-convencer, depois de ter recém aprendido algumas coisas sobre determinado assunto, que se encontra em condições de opinar em detalhe sobre ele. A existência da wikipedia, por muito útil que ela seja, tem exacerbado a multiplicação de pessoas afectadas pelo Efeito.
Quando confrontamos alguém afectado pelo efeito com a sua evidente falta de leitura de bibliografia a respeito de tema em que opina com veemência, contrapõem-nos com uma, duas, três páginas da wikipedia, como se três parágrafos se equivalessem a 300 páginas de texto.
Mas aqui o Lavoura é um study-case em modelo atrevido do Efeito de Dunning-Kruger!
PS - Esqueci-me de dizer que o Efeito de Dunning-Kruger consta de uma página da wikipedia. Ora se existe na wikipedia é porque é verdadeiro...
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