19 de Janeiro de 1972. Por coincidência, nesse dia, dois jornais reputados da imprensa francesa publicaram títulos que, qualquer um deles, se veio a tornar famoso a respeito de assuntos que até eram completamente distintos. Por um lado, o jornal de direita «L'Aurore» anunciava que havia sido identificado o paradeiro de Klaus Barbie, que se celebrizara em França como torcionário, ao dirigir a Gestapo da cidade de Lyon durante o período da Ocupação (1942-44). Embora procurado para ser julgado depois do fim da guerra e, como aconteceu com tantos outros antigos oficiais das SS, Klaus Barbie desaparecera, para agora aparecer em Lima, no Peru, América Latina, sob um nome suposto (tal qual o que acontecera com Adolf Eichmann). A pergunta (pertinente) que o L'Aurore adicionava ao anúncio da descoberta era sobre o que seriam as intenções do governo francês quanto ao gesto de pedir a extradição do fugitivo. Por outro lado e no mesmo dia, quarta-feira, o semanário satírico de esquerda Le Canard Enchaîné publicava as declarações de impostos (1967-70) do primeiro-ministro Jacques Chaban-Delmas. Pela sua leitura se percebia que, recorrendo a uma apurada engenharia fiscal, o inquilino do Matignon pagara apenas 16.800 francos de impostos sobre os seus 250.000 francos de rendimentos (ou seja, uma taxa efectiva de 6,7%). Pela comparação entre as duas notícias também se percebe a diferença entre estilos de jornalismo. A do L'Aurore tem, a prazo, muito mais significado histórico: Barbie só será extraditado (da Bolívia) em 1983, julgado e condenado a prisão perpétua até à sua morte em 1991. A do Le Canard Enchaîné percebe-se que foi uma fuga selectiva e presta-se a muito mais especulações intrigas dos observadores. O alvo, Jacques Chaban-Delmas, não conseguiu sobreviver politicamente ao teor das revelações, vindo a demitir-se dali por seis meses.
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