01 janeiro 2022

O EMBARAÇOSO FUTURO ESCÂNDALO DO SECRETÁRIO GERAL DA ONU

1 de Janeiro de 1972. Aos 53 anos, o diplomata austríaco Kurt Waldheim (1918-2007) tornava-se - «por aclamação», como se pode ouvir no vídeo acima - no quarto secretário-geral da ONU e iniciava nessa data o seu mandato. Contudo, guardado para o futuro estava a constatação que esta ocasião se virá a revelar um dos mais embaraçosos momentos da arquitectura da diplomacia internacional depois da Segunda Guerra Mundial. E não porque tivesse tido algum desfecho trágico em termos de conflitos internacionais. Felizmente. Só que, depois de cumprir dez anos e dois mandatos naquele cargo (1972-1981), Waldheim irá regressar ao seu país e candidatar-se-á à presidência da República, uma eleição que ele até virá a ganhar (1986) mas onde, durante a campanha eleitoral, virão a surgir revelações muito comprometedoras quanto ao que fora a sua conduta durante os anos em que a Áustria estivera anexada à Alemanha nazi (1938-1945). A biografia que Waldheim apresentara ao longo da sua anterior carreira revelava-se cheia de omissões e inconsistências que escondiam uma simpatia confessa pelo nazismo durante a sua juventude e, pior, a participação como militar em operações nos Balcãs contra populações suspeitas de albergar guerrilheiros e no transporte de judeus para os campos de extermínio.
Em retrospectiva, e mesmo que isso não tivesse acontecido anteriormente na própria Áustria, esses eram aspectos que deviam ter sido descobertos quando do escrutínio do seu CV por ocasião da sua candidatura ao cargo de secretário geral da ONU. Isso, por si, já era uma nota de uma enorme incompetência dos aparelhos diplomáticos e dos serviços de informações das principais potências mundiais (onde é que estivera o infalível Mossad?...). Mas pior, percebia-se também em retrospectiva, que a existência e ocultação desses episódios, haviam tornado o antigo secretário geral passível de ser eventualmente chantageado por quem os conhecesse de antemão (o que as investigações posteriores realizadas nos Estados Unidos parecem ter concluído que terá acontecido mesmo por parte da União Soviética, que conhecia o verdadeiro conteúdo do dossier Waldheim – vídeo intermédio). Este é um daqueles episódios em que, para além da desonra que recaiu sobre Waldheim (ostracizado à escala mundial), a culpa da incompetência parece ter morrido solteira. Uma boa explicação para isso poderá residir na solidariedade corporativa que, mesmo por detrás das rivalidades nacionais, dominava aquela instituição e a corporação dos diplomatas ali acreditados. Na fotografia abaixo, tirada quando Kurt Waldheim discursava por ocasião da sua posse (assinalado pelo rectângulo branco), podemos identificar (naturalmente) o seu antecessor, o birmanês U Thant (a laranja), mas também e significativamente aquele que virá a ser o seu sucessor dali por dez anos, o peruano Javier Pérez de Cuéllar (a amarelo).

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