11 de Janeiro de 1942. Os japoneses entram em Kuala Lumpur, a capital da Malásia. A assinalar e explicar o acontecimento, a wikipedia tem uma entrada denominada «Battle of Kuala Lumpur». Na realidade, não houve batalha alguma. Os ingleses pegaram em praticamente tudo o que tivesse rodas e motor e fugiram à frente dos japoneses. Não deixa de conter uma certa ironia que uma das principais unidades envolvida nessa retirada sobre rodas fosse a 11ª divisão indiana, cujo emblema era... uma roda de 11 raios. Aquele que era o correspondente na Malásia do jornal The Times, Ian Morrisson, veio a descrever depois - mas não para o jornal... - aquilo que testemunhara na cidade nesse dia. «Acumulavam-se as cenas de caos. A grande maioria dos soldados britânicos já haviam partido mas havia ainda pequenas unidades a cobrir o avanço japonês a uns 25 km a norte da cidade, enquanto dentro dela destacamentos de sapadores demoliam as últimas pontes. Com o desaparecimento da autoridade, a lei e ordem desaparecera e os grandes estabelecimentos comerciais do centro estavam a ser saqueados. As ruas estavam pejadas das caixas de cartão que embrulhavam os artigos roubados e que os saqueadores haviam logo deitado fora. Via-se gente a carregar de tudo: móveis, carpetes, rolos de tecido, maquinas de costura, rádios, latas de conserva de todos os produtos imagináveis, e até mesmo havia quem se tivesse interessado por um jogo completo de tacos de golfe... O edifício do governo, onde também estivera instalado o quartel-general, estava deserto, com o mastro já despojado da «Union Jack». No drawing-room e numa pequena mesa, um copo de whisky e soda que ficara por acabar. Numa das escrivaninhas do primeiro andar via-se documentação vária, endereçada ao governador, que já fora passada à maquina, mas que ninguém chegara a assinar. Nos gabinetes do rés-do-chão parecia que os ocupantes haviam pousado subitamente as canetas e partido. Um camião, ainda operacional, estava estacionado num dos lados do edifício. O hall da entrada, estava repleto de vitrines exibindo joalharia em prata e punhais exóticos. Os retratos oficiais do rei e da rainha lá permaneciam imponentes no seu mudo sorriso institucional. Mas o que mais terá irritado Morrison foi a sua descoberta, nos serviços de cartografia, de milhares de mapas, completamente disponíveis para que os japoneses se viessem a servir deles...» (The Battle for Singapore, p. 299). O panorama era este quando os japoneses chegaram horas depois (e Morrison já se fora embora...). Os japoneses que vemos na fotografia inicial não estavam a combater contra ninguém. Mas até parece...
Uma boa imagem para mostrar que os ingleses nãp passam de uns poltrões.
ResponderEliminarNão concordo, Lavoura. Não são mais poltrões do que os outros.
ResponderEliminarO que me chateia sobremaneira neles é aquele hábito que, quando a História lhes corre mal e há mais do que um responsável, a culpa é sempre dos outros (vide La Lys). E quando não há mais ninguém para quem transferir culpas:
a) transformam a tragédia num episódio heróico (a carga da brigada ligeira)
b) ou então em algo que simplesmente não aconteceu (descolonização do Iémen do Sul)