11 janeiro 2022

OS JAPONESES ENTRAM EM KUALA LUMPUR

11 de Janeiro de 1942. Os japoneses entram em Kuala Lumpur, a capital da Malásia. A assinalar e explicar o acontecimento, a wikipedia tem uma entrada denominada «Battle of Kuala Lumpur». Na realidade, não houve batalha alguma. Os ingleses pegaram em praticamente tudo o que tivesse rodas e motor e fugiram à frente dos japoneses. Não deixa de conter uma certa ironia que uma das principais unidades envolvida nessa retirada sobre rodas fosse a 11ª divisão indiana, cujo emblema era... uma roda de 11 raios. Aquele que era o correspondente na Malásia do jornal The Times, Ian Morrisson, veio a descrever depois - mas não para o jornal... - aquilo que testemunhara na cidade nesse dia. «Acumulavam-se as cenas de caos. A grande maioria dos soldados britânicos já haviam partido mas havia ainda pequenas unidades a cobrir o avanço japonês a uns 25 km a norte da cidade, enquanto dentro dela destacamentos de sapadores demoliam as últimas pontes. Com o desaparecimento da autoridade, a lei e ordem desaparecera e os grandes estabelecimentos comerciais do centro estavam a ser saqueados. As ruas estavam pejadas das caixas de cartão que embrulhavam os artigos roubados e que os saqueadores haviam logo deitado fora. Via-se gente a carregar de tudo: móveis, carpetes, rolos de tecido, maquinas de costura, rádios, latas de conserva de todos os produtos imagináveis, e até mesmo havia quem se tivesse interessado por um jogo completo de tacos de golfe... O edifício do governo, onde também estivera instalado o quartel-general, estava deserto, com o mastro já despojado da «Union Jack». No drawing-room e numa pequena mesa, um copo de whisky e soda que ficara por acabar. Numa das escrivaninhas do primeiro andar via-se documentação vária, endereçada ao governador, que já fora passada à maquina, mas que ninguém chegara a assinar. Nos gabinetes do rés-do-chão parecia que os ocupantes haviam pousado subitamente as canetas e partido. Um camião, ainda operacional, estava estacionado num dos lados do edifício. O hall da entrada, estava repleto de vitrines exibindo joalharia em prata e punhais exóticos. Os retratos oficiais do rei e da rainha lá permaneciam imponentes no seu mudo sorriso institucional. Mas o que mais terá irritado Morrison foi a sua descoberta, nos serviços de cartografia, de milhares de mapas, completamente disponíveis para que os japoneses se viessem a servir deles...» (The Battle for Singapore, p. 299). O panorama era este quando os japoneses chegaram horas depois (e Morrison já se fora embora...). Os japoneses que vemos na fotografia inicial não estavam a combater contra ninguém. Mas até parece...

2 comentários:

  1. Uma boa imagem para mostrar que os ingleses nãp passam de uns poltrões.

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  2. Não concordo, Lavoura. Não são mais poltrões do que os outros.

    O que me chateia sobremaneira neles é aquele hábito que, quando a História lhes corre mal e há mais do que um responsável, a culpa é sempre dos outros (vide La Lys). E quando não há mais ninguém para quem transferir culpas:
    a) transformam a tragédia num episódio heróico (a carga da brigada ligeira)
    b) ou então em algo que simplesmente não aconteceu (descolonização do Iémen do Sul)

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