26 janeiro 2022

O «SÁBADO NEGRO» NO CAIRO

26 de Janeiro de 1952. Ocorreram motins por toda a cidade do Cairo, conhecidos posteriormente pela designação de Sábado Negro (ou em árabe: حريق القاهرة). A sua eclosão costuma ser justificada por um grave incidente ocorrido na cidade de Ismaília (junto ao Canal do Suez) no dia anterior, em que tropas da guarnição britânica de protecção ao Canal se comportaram com uma prepotência inaceitável para com a polícia egípcia, num claro caso de confronto entre as duas soberanias. Do tiroteio entre as duas força teriam resultado 50 mortos entre os egípcios (um número provavelmente muito empolado), mas o sentimento de humilhação dos egípcios, esse era mais do que transparente. Estes distúrbios de há 70 anos, começaram a partir do princípio da tarde do dia seguinte, um Sábado. Caracterizaram-se pelo saque e incêndio de um vastíssimo conjunto de centenas de estabelecimentos comerciais do Cairo que pertenciam a europeus, especialmente britânicos: grandes magazines, hotéis, escritórios, cinemas, cafés, restaurantes, bares e clubes. Como se pode apreciar nas imagens abaixo, quase tudo foi destruído. Mas a selectividade dos alvos e o oportuno desaparecimento das autoridades policiais sugere que a operação havia sido planeada de antemão, embora permaneça até hoje quem foram os responsáveis por o ter desencadeado e com que cumplicidades contaram. Por volta das 23H00 e com imensos incêndios a grassar pela cidade, o motim terminou. Haviam morrido 26 pessoas, entre as quais 9 britânicos, o que, mais uma vez e em função da dimensão dos desastres materiais, sugere que a acção foi orientada para causar um mínimo de desastres pessoais. Também ninguém foi preso. Por causa das circunstâncias descritas, melhor do que o jornal do dia, é o do dia seguinte (acima) que melhor dá conta dos acontecimentos. Por causa destes tempos, em que eles se comportaram como verdadeiros estupores, é que os britânicos mantêm, ainda hoje, uma péssima reputação em muitos países do Médio Oriente (aqui é o Egipto, mas também o Irão, o Iraque ou ainda o Afeganistão), um pormenor histórico que é frequentemente esquecido quando das análises internacionais.

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