13 janeiro 2022

ASSIM SE VIA A FORÇA DO PC

13 de Janeiro de 1922. Uma pequena nota do Diário de Lisboa desse dia dava conta da apresentação de uma candidatura comunista pelo círculo de Moçambique às próximas eleições legislativas que teriam lugar no final daquele mês. Transcreve-se então a notícia que será capaz de animar o pós-operatório de Jerónimo de Sousa, mostrando que a tão evocada, nos slogans, «força do PC», se parece estar a esvair-se nas votações eleitorais, pelo menos já é centenária nas candidaturas.
«Segundo informações que recebemos de Lourenço Marques, os organismos operários apresentam como candidatos no próximo acto eleitoral os nomes do sr. Manuel Ribeiro e Eduardo de Freitas para deputados e o do sr. Manuel Ricardo de Miranda para senador.
O sr. Manuel Ribeiro, que não é desconhecido dos leitores do Diário de Lisboa, pois a ele já por mais de uma vez nos referimos, é a figura de maior destaque do Partido Comunista Português e o autor da Catedral, uma das mais brilhantes produções literárias da moderna geração. Quanto ao sr. Eduardo de Freitas, operário serralheiro, é bem conhecido dos meios sindicalistas de Lisboa pelas suas qualidades de orador revolucionário.
Estas candidaturas não devem ter a sanção do Partido Comunista, que se desinteressou das próximas eleições, tratando-se, pois, de uma simples manifestação da força do proletariado organizado da província de Moçambique. Na hipótese de serem eleitos, os srs. Manuel Ribeiro e Eduardo de Freitas declinarão os seus mandatos».
A notícia vale pela curiosidade, desnecessário será esclarecer que a hipótese da eleição dos candidatos comunistas não se chegou a pôr: Manuel Ribeiro recebeu 161 votos e Eduardo de Freitas 117, contra os 978 de Delfim Costa (democrático) e os 954 de Álvaro Xavier de Castro (independente), os dois eleitos. Desnecessário será esclarecer que não consegui encontrar nada a respeito deste episódio nos arquivos comunistas. Aparentemente, para eles nada disto aconteceu. Como se sabe, para os comunistas no passado só aconteceu aquilo que interessa que se saiba que tenha acontecido, e porque esse interesse varia com os tempos, é que esse passado pode ser, para eles, um assunto bastante imprevisível (pessoas que lá estiveram deixaram de lá estar...).

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