21, 22, 23 de Novembro de 1961. Há sessenta anos a comunicação social portuguesa acompanhava, sem comentários, um folhetim que se desenrolava em terras brasileiras, mais concretamente no Rio de Janeiro. O folhetim desencadeara-se por causa da chegada àquele país de Henrique Galvão, que se tornara, por assim dizer, internacionalmente famoso depois de capitanear o assalto ao paquete Santa Maria em Janeiro daquele ano, quase precisamente dez meses antes. Recorde-se que o sequestro do navio terminara num porto brasileiro (Recife), com um pedido de asilo político feito ao governo brasileiro por Henrique Galvão e pelo restante comando. Um pedido que fora aceite. Aparentemente Henrique Galvão fora à sua vida e a opinião pública portuguesa havia-se desinteressado do assunto. Agora ficara a saber que Galvão pretendera regressar ao mesmo Brasil e a vontade das autoridades brasileiras aparentemente mudara. Há quem trate do acontecimento de uma forma mais arrebatada, há quem o trate de uma forma mais técnica, eu aqui tento apenas enfatizar a perspectiva do leitor do Diário de Lisboa daquela altura, que se interrogaria sobre as causas subjacentes à mudança de atitude das autoridades brasileiras. O que é paradoxal é que estes momentos complicados e menos heróicos das vidas dos exilados políticos, a que os portugueses tinham tido acesso, apesar da censura, como que desapareceram das narrativas depois do 25 de Abril.
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