Originário do Reino Unido (o que lhe confere um outro grau de distanciamento para o apreciarmos em toda a sua distorção), deparo-me com este exemplo da discrepância entre a variedade da opinião pública e a sintonia concertada da opinião publicada. A história conta-se brevemente: em comentário no The Times à passagem da activista Greta Thunberg pela cimeira de Glasgow, o comentador televisivo Jeremy Clarkson deixa-lhe a sugestão que ela «experimente ir protestar para a praça Tiananmen» em Pequim (já que, recorde-se, a China não compareceu na cimeira). E na reacção há pelo menos dois outros jornais britânicos - Independent e Evening Standard - que noticiam as repercussões sociais negativas que o comentário de Clarkson tivera, embora dando destaque a outra passagem do texto em que este se refere à activista sueca sugerindo que o que ela mereceria seria aquilo que se poderia traduzir à portuguesa por «o rabinho lavado com água de malvas». Os artigos do Independent e do Evening Standard têm a mesma estrutura: dão destaque e citam comentários das redes sociais em que unanimemente se critica a expressão («smacked bottom») escolhida pelo comentador britânico. O paradoxal é que este episódio chegou ao meu conhecimento também por comentários das redes sociais, só que, na sua maioria, por comentários precisamente de sentido inverso (até li um do João Marques de Almeida!...), pessoas que, acredito, compartilharão com Clarkson uma certa saturação crítica quanto à irrazoabilidade como a jovem activista sueca tem vindo a ser produzida mediaticamente. Só mesmo a opinião publicada prevalecente é que nos quer fazer convencer que Greta Thunberg é uma figura assim tão respeitada e consensual. É que, por falar em rabos, não foi Jeremy Clarkson que começou a referir-se a eles, foi Greta Thunberg ao proclamar que (os organizadores da cimeira) bem «podiam enfiar a sua (deles) crise climática pelo cu acima». Ou, por outras palavras, ela é que pôs o cu a jeito, não é?
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