Se formos recordar o que os dois concorrentes à liderança do PSD diziam em meados do mês passado, um antevia uma crise política grave e o outro dizia que o PSD não podia ser mais o partido da espera. Um antecipava um problema, o outro proclamava um "soundbite". Há naquele partido uma facção que se está marimbando para as virtudes demonstradas por quem quer que seja que antecipe os problemas, o que é importante é a qualidade dos "soundbites" e que a coisa vai lá - chegar ao poder - com muito bons "soundbites". Tanto é assim que, aqui há uns anos, o antecessor de Rui Rio - perdido o poder - antecipou um problema e fê-lo com um "soundbite" de grande qualidade: "Vem aí o diabo". Tinha tanta qualidade que as pessoas não se esqueceram dele, e depois veio o problema... é que o diabo não veio. Mas o "soundbite" fora de tal categoria que ninguém dessa facção teve depois a coragem de criticar Pedro Passos Coelho por se ter enganado redondamente. E seria uma ingenuidade esperar que esses mesmos tirassem agora alguma conclusão do facto de, ainda a 18 de Outubro, em entrevista à TVI, Paulo Rangel ter «a convicção» que «a crise política era muito pouco provável». No universo deles, ter-se enganado redondamente não tem importância nenhuma, como diria a Teresa Guilherme. A credibilidade parece ser um adereço. Vamos a ver e, para essa facção do PSD, nem mesmo uma pessoa como Winston Churchill teria tido qualquer hipótese de, neste momento, vir a liderar o partido deles, apesar de se apresentar aureolado de ter antecipado desde muito cedo a ameaça da expansão germânica. É que as suas advertências dessa fase, Churchill nunca as fez recorrendo a "soundbites". Todos aqueles "soundbites" mais conhecidos de Churchill (sangue, suor e lágrimas, nunca tantos deveram tanto a tão poucos, etc.) são de discursos que ele proferiu como primeiro-ministro, depois de 1940. Tal qual entendo a sua funcionalidade: os bons "soundbites" melhoram a prestação de um bom primeiro-ministro; mas os bons "soundbites" não são prenúncio de um bom primeiro-ministro. Naquela facção do PSD confunde-se uma coisa com a outra.
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