30 de Novembro de 1921. O meu primeiro comentário, antes de apreciar o conteúdo desta notícia de há cem anos, vai para a forma, nomeadamente para a ignorância do jornalista do Diário de Lisboa que a traduziu do francês, ao dar a notícia como originária de Génova, na Suíça, quando o quereria dizer seria Genebra (Genève, no francês original), que era então, e continua a ser, o grande centro financeiro da Suíça francófona. Concordante com essa ignorância e provavelmente para lá das suas capacidades de dedução, logo na primeira linha do artigo, o mesmo jornalista não soube traduzir a cidade de Bâle (em francês, Basel no alemão local) para o nome em português: Basileia. Dois parágrafos mais abaixo, o mesmo erro para uma cidade belga, designada por Anvers (à francesa), mas conhecida em português por Antuérpia.
Ultrapassando todas estas ignorâncias ´(de palmatória!), o que a notícia nos conta é que a situação se afigurava difícil para todas aquelas instituições bancárias e para-bancárias europeias que operavam nos mercados cambiais. A culpa era do contínuo deslize do marco alemão face às restantes moedas. Como aqui neste blogue já se deu conta, a Alemanha vencida fora sancionada com um elevado montante de indemnizações, e a resistência passiva das autoridades alemãs traduzia-se numa desvalorização contínua e acentuada da sua moeda face às divisas dos países com quem tradicionalmente comerciava. Só que isso pagava-se. No comércio interno os alemães viviam com uma inflação cada vez mais alta, enquanto que no comércio externo era fortemente perturbado por câmbios cada vez mais instáveis: em Abril de 1919 um dólar americano valia 12 marcos alemães; no fim deste mês de Novembro de 1921, decorridos um pouco mais de dois anos e meio, o dólar passara a valer 263 marcos, ou seja 22 vezes mais! A verdade era que os operadores não estavam nada habituados a tal volatilidade de câmbios, e as operações mais arriscadas, quando corriam mal, pagavam-se seriamente: em falências! Ainda não se falava em inflação, mas os preços na Alemanha haviam subido quase 60% desde Janeiro de 1921.
E contudo, suprema ironia, desconhecido dos leitores deste jornal e, sobretudo, dos alemães em geral, o futuro ainda se viria a revelar ainda pior, verdadeiramente aterrador. No Outono de 1923, ou seja, dali por dois anos, e como aqui também já contei, o dólar viria a alcançar o valor de 4.200.000.000.000 marcos! A sociedade alemã regrediu para o nível da troca directa de bens, porque o papel moeda perdera completamente a sua função.
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