11 novembro 2021

A MEMORÁVEL SESSÃO DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE PARIS DE QUE SE PERDEU A MEMÓRIA

O Diário de Lisboa de 11 de Novembro de 1921 dava o destaque que a imagem documenta a uma sessão da Academia das Ciências de Paris que é classificada repetidamente de «memorável». O orador da dita sessão, que tivera lugar a 24 de Outubro de 1921, fora o matemático Paul Painlevé (1863-1933). Sem nunca ter granjeado a popularidade entre os leigos que foi alcançada por Albert Einstein, Painlevé foi, ainda assim, uma personalidade científica assaz interessante. Para além da sua actividade como matemático teórico, foi um político: deputado desde 1910 até à sua morte em 1933, sobraçou várias pastas ministeriais (Guerra, Finanças, Instrução Pública) e foi mesmo primeiro-ministro por duas vezes, em 1917 e 1925. Portanto, Paul Painlevé não se assemelhava em nada àquela imagem idealizada dos cientistas teóricos sonhadores, modestos e discretos. Uma apresentação sua na Academia das Ciências era um momento científico mas também social e político. Mas sintetizar a sua apresentação à Academia numa «negação da lógica da fórmula do grande sábio Einstein» era um completo disparate e não por culpa do orador. Como é tradicional, quando o assunto é exigente, o jornalista é ignorante, e quando um jornalista não percebe nada do assunto sobre o qual escreve, normalmente não o assume, não pergunta, inventa, obrigando-se a condimentar a história para lhe conferir interesse ao leitor: «Por fim Painlevé nega a lógica intrínseca das fórmulas de Einstein». Para quem queira saber o detalhe do que se tratou, a apresentação de Painlevé versava sobre uma proposta sua para a solução de um caso particular - o dos buracos negros - das equações de campo de Einstein. Pelo que se percebe pelo teor da página inicial da comunicação (abaixo), ela não teve nada do teor confrontacional que se depreende da notícia: Painlevé contra Einstein. Quanto à teoria da Paul Painlevé, que ficou conhecida pela designação de coordenadas Gullstrand-Painlevé (e que hoje é considerada redundante), não se tornou nada memorável. A Ciência e o jornalismo sempre conviveram muito mal.

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