Aquilo que ontem aconteceu nas eleições internas do PSD fez-me recordar o desfecho de um episódio semelhante naquele mesmo partido, só que com 43 anos. Em princípios de Junho de 1978, também uma maioria esmagadora de dirigentes social-democratas produzira um documento que recolhera uma ampla maioria entre os órgãos dirigentes do partido. O documento recebera o nome de baptismo de «Opções Inadiáveis» parecia recolher o apoio da grande maioria dos notáveis do partido, inclusive a maioria do seu grupo parlamentar (42 em 73 deputados), como a comunicação social da época destacava (abaixo). Eu lembro-me bem de como, ao fazer o elenco dos nomes dos que haviam votado com Sá Carneiro, realizar que a lista se estendia para pouco mais do que os nomes do (então) casal Roseta (Pedro e Helena). As outras figuras estavam todas do outro lado, como por todo o lado (comunicação social) não se deixava de enfatizar. E depois, dali a algumas semanas, realizou-se o VI Congresso do PSD (1 e 2 de Julho de 1978) e desapareceram todos aqueles notáveis que durante quatro anos nos haviam explicado que eram a força do PSD. Que o partido tinha muitos quadros e tinha muitos barões e baronetes com muita influência local. Ou, se calhar, não. Ou, se calhar, isso era completamente irrelevante. Não se sabia então, mas dali por ano e meio o PSD coligado na AD iria ganhar as eleições intercalares de Dezembro de 1979 sem o concurso visível da maioria dos subscritores das «Opções Inadiáveis».
O que acabou de ocorrer com as directas do PSD parece-me decalcado da primeira fase do que aconteceu há 43 anos, em Junho e Julho de 1978. Como acontecera com Sá Carneiro, a comunicação social - agora predominante do outro lado do espectro político - também tomou Rui Rio de ponta, não disfarçando o seu favoritismo pelo seu rival. Acumulavam-se as participações dos novos notáveis do PSD que o apoiavam. E depois é o que se está a ver. Uma derrota de todos esses interesses e de todas essas opiniões. Claro que a vitória não foi esmagadora; claro que quem chama a atenção para isso não se importaria que a vitória fosse tangencial, desde que tivesse sido para o seu lado. Mas a questão do próximo congresso do PSD (XXXIX, como o tempo passa...) parece arrumada. Há dois argumentos que vi surgirem nesta "ressaca de cacholas" que são particularmente divertidos: a) a que a vitória de Rui Rio reforçou a sua liderança do PSD, como se Paulo Rangel tivesse forçado a realização destas eleições para lhe fazer um favor e não para o desalojar; b) que as características desta vitória, por cima dos quadros do partido, é capaz de se traduzir numa falta de quadros para a equipa dirigente de Rio, como se não bastasse o "cheirinho a poder" para fazer surgir novos quadros. Outros argumentos que li nem sequer são divertidos: são só parvos. Mas é engraçado perceber por estes paralelos, e também por questões de feitio, que Rui Rio é, em certos aspectos, o dirigente do PSD que mais se assemelhará a Francisco Sá Carneiro. Sá Carneiro que é endeusado por muitos dos militantes que ontem saíram derrotados. Esta analogia é até evidente. Mas a obtusidade política é poderosíssima.
Concordo. É muito interessante, como tu dizes, a forma como se tenta transformar uma tentativa (a de Rangel) de desalojar Rui Rio, agora que parece ser possível a chegada ao poder, afirmando que este "reforçou" a sua legitimidade, como se fosse esse o seu objectivo!
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