Foi com uma enorme discrição que se constata estar a ser noticiada a aterragem no lado oculto da Lua da sonda espacial chinesa Chang'e 6. A missão tem por objectivo recolher amostras de poeira e rochas lunares para posterior análise na Terra. Para isso, o sistema está organizado em quatro módulos: um orbital à volta da Lua, este módulo de aterragem na superfície lunar que foi agora utilizado, um terceiro módulo de redescolagem depois da recolha das amostras do solo e finalmente um quarto módulo preparado para as proteger quando do seu retorno à Terra. Trata-se de uma proeza que já foi alcançada pelos Estados Unidos e pela União Soviética durante a sua Corrida para a Lua de há 50 anos, mas neste caso da Chang'e 6 existe a curiosidade - e a dificuldade - científica acrescida desta pesquisa estar a realizar-se do lado oculto da Lua. Há aqui um investimento notório por parte da China, não apenas científico, mas também de prestígio. O vídeo acima é uma prova disso, e é impossível não nos sorrirmos ao ouvir a escolha que fizeram para a banda sonora do momento da aterragem, «O Danúbio Azul», num piscar de olhos deliberado à famosa cena do filme 2001 - Odisseia no Espaço.
Contudo, mais interessante do que acompanhar a própria proeza científica, têm sido os meus esforços para tentar compreender a racionalidade como estas proezas científicas costumam ser noticiadas pela comunicação social. A portuguesa e a internacional, esclareça-se. Ainda este ano, em Fevereiro, acompanhei aqui no blogue uma iniciativa privada de fazer aterrar uma sonda também na Lua, que recebeu uma promoção prévia entusiasmada (1) e que depois, após uma tentativa ridícula de atrasar as más notícias (2), se veio a revelar um fiasco... colossal (3). O contraste com as notícias a propósito desta Chang'e 6 não podia ser maior. Entre a comunicação social portuguesa e do resultado da pesquisa que acabei de fazer com o Google Notícias (acima) apenas o jornal Público se tinha dado ao trabalho de processar a informação que lhe chegara via Reuters. Eu vivo ainda na ilusão de que, porque estes temas são científicos, a sua repercussão noticiosa devia ser mais neutra. Mas nestas ocasiões parece-me que a objectividade é a mesma que aquela que acompanha a difusão dos pensamentos dominicais de Luís Marques Mendes na SIC versus Paulo Portas na TVI. O primeiro até pode dar um traque que é garantido que o Expresso comenta de imediato a importância do som emitido, enquanto o segundo, nem mesmo citando os ensinamentos de Confúcio, tem qualquer hipótese que lhe dêem atenção... (note-se: não tenho pena alguma de ele ser descriminado, devia era ignorar-se Marques Mendes da mesma maneira)
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