...ainda não dei por ninguém que tivesse comentado o resultado do ADN. Depois de ter recebido 100.000 votos nas eleições legislativas, que foram atribuíveis pela opinião publicada a questões de analfabetismo funcional e que foram mesmo pretexto para manifestações do síndrome de Calimero pelos simpatizantes da AD, o ADN torna a surpreender os comentadores políticos três meses depois ao recolher 54.000 votos, superando mesmo a votação do PAN. Reconheço que as opiniões se podem dividir para o que aconteceu: há quem possa defender que o analfabetismo persiste e que nem todos (cerca de metade) terão aprendido com o engano de há três meses; mas também haverá quem possa defender que este resultado se deva à projecção mediática da cabeça de lista da formação, Joana Amaral Dias, que, como é seu estilo, realizou uma campanha muito incisiva. De qualquer maneira, fica o registo objectivo que, a ter sido esta última a explicação, a incisividade da cabeça de lista teve mais repercussões nos distritos da Guarda e de Bragança, onde a votação do ADN chegou a rondar os 2%.
Também ainda não dei por ninguém que se tivesse referido ao número de votos em branco, tema esse, de resto, normalmente esquecido. Mas vale a referência, já que os 47.000 votos em branco representam um mínimo de sempre em eleições europeias, apenas aproximado com o valor de 49.000, registado em 1994. Estes valores de ontem contrastam significativamente com os registados nas últimas três eleições: 166.000 em 2009, 145.000 em 2014 e 141.000 em 2019. Em qualquer dessas eleições o número de votos em branco foi superior a 4% e foi também superior ao coeficiente de votos que elegeu os últimos eurodeputados para o Parlamento Europeu. Ainda bem que os votos em branco não elegem um não-deputado (ou seja, um lugar vazio), porque se isso acontecesse, teria havido uma cadeira vazia em Bruxelas por conta dos portugueses que foram votar mas não a favor de alguém. A boa notícia de ontem é que o número daqueles que votam por dever cívico mas que acabam por não fazer qualquer escolha se reduziu a ⅓ daquilo que era costume nas eleições europeias, sintoma que as opções disponíveis estão agora mais ao gosto dos portugueses.
Em contrapartida, vale a pena referir por fim aquilo que eu li referido, mas que me parece assentar num equívoco, quiçá por algum entusiasmo engajado excessiva de quem analisa os resultados eleitorais, como parece ser o caso acima de uma expectativa de que o Livre pudesse alcançar quase naturalmente representação no Parlamento Europeu. Era uma questão de mais ou menos pedalada. Mas a verdade é que, quem se tivesse dado à curiosidade de projectar os resultados das eleições legislativas de Março passado numa hipotética distribuição dos 21 lugares de eurodeputado, aperceber-se-ia que tanto o PCP quanto o Livre partiriam em desvantagem. O PCP conseguiu em última instância: o seu eurodeputado foi o penúltimo (20º) a ser eleito. O Livre falhou: teria sido preciso haver 23 eurodeputados...
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