12 junho 2024

O JURAMENTO DA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA

«Não acredito, não sou membro, nem sou apoiante de qualquer partido ou organização que acredite, advogue ou promova o derrube do Governo dos Estados Unidos pela força ou por quaisquer métodos inconstitucionais ilegais»

Conforme se podia ler na primeira página do New York Times de 12 de Junho de 1949, a Universidade da Califórnia passaria a partir de então a adoptar um juramento para os 4.000 membros do seu corpo docente e funcionários administrativos. A explicação para aquele gesto também constava do artigo: para fazer face àquilo que o porta-voz da Universidade, assistente do reitor, denominava por «histeria da guerra-fria». Embora o texto do juramento se refira abstractamente a organizações que promovessem e advogassem o derrube das instituições por meios ilegais, e não mencione qualquer organização em particular, o título da notícia é inequívoco em identificar o alvo: os comunistas, filiados ou apenas simpatizantes. Por isso os jornalistas o baptizam naquela altura por juramento anti-vermelho.
Quer a ironia da História que, nestes 75 anos entretanto decorridos, a ocasião em que «o Governo dos Estados Unidos» esteve mais próximo de ser «derrubado pela força ou por quaisquer métodos inconstitucionais ilegais» (a 6 de Janeiro de 2021, fotografia acima), o vermelho empunhado por quem assim agiu nada tinha a ver com os comunistas, antes pelo contrário...

4 comentários:

  1. Sobre a substancia deste testo nada a dizer.
    Quanto ao contexto que leva aos acontecimentos aqui relembrados - e essencial perceber o terramoto politico que foi "the loss of China". Pode-se comecar pela wikipedia:

    https://en.wikipedia.org/wiki/Loss_of_China#:~:text=In%20American%20political%20discourse%2C%20the,loss%20of%20China%20to%20communism.%22

    mas nao se deve ficar apenas por ai.
    Noam Chomsky tem varias palestras e livros aludindo ao tema. A wikipedia ate o cita. Cito-o de memoria:

    "The beginning of the American decline in world Hegemony after its peak on the immediate aftermath of WWI was an unavoidable event as discussed before, in 1949 China declared independence, coined in Western discourse as "the loss of China" – in the US, with bitter recriminations and conflict over who was responsible for that loss. The terminology is revealing: I can lose my own watch, but not yours..."

    De1949 ate, va la... 1955 e mais um pouco, discutia-se a China, nos EUA, como se de um relogio de pulso se tratasse...
    Mas imperialistas sao os outros...

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  2. Pois, creio que me vou repetir ao dizer-lhe que não compartilho do seu entusiasmo pelas opiniões do Noam Chomsky: é alguém que se notabilizou originalmente numa certa área académica, e que a partir daí começou a dar opiniões sobre tudo ou quase tudo - «do cocó à bomba atómica.»

    Por exemplo, talvez seja a sua citação que não esteja correcta, mas o declínio da hegemonia americana ocorre imediatamente depois da Segunda e não Primeira Guerra Mundial (WWI). Mas, seja qual for a razão, a questão não é importante.

    O que é importante é que a essência do texto que escrevi realça a ironia da História, e o facto de que a primeira vez que ocorreu um episódio de tentativa de derrube da ordem constitucional pela força nos Estados Unidos ela tenha sido protagonizada por outros «vermelhos», cor que, como saberá, é a identificativa dos republicanos.

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    1. WWI e um typo meu. O apogeu da hegemonia americana obviamente ocorreu no imediato pos-Seguanda Guerra Mundial.

      Quanto a Noam Chomsky. Pois... teremos de aceitar a discordancia e ficar por ai mesmo...

      Acrescento ainda assim que essa sua caracterizacao sumaria e incorrecta.
      Nao so Chomsky desenvolveu a sua longa e prolifica bibliografia sobre filosofia politica e activismo politico em paralelo com a sua carreira academica em linguistica como as suas palestras e livros sempre se cingiram a temas de filosofia politica, politica externa dos EUA e politica externa do Estado de Israel.
      Alem de que usar o descritico "dar opinioes" sugere que o que Chomsky "anda por ai" a escrever umas boutades dos "jornalistas" da seccao de opinao de um "Publico" ou "Observador" - pelo menos os livros sao obras de investigacao e interpretacao apoiadas em extensa bibliografia.

      E tambem certissimo afirmar que o melhor e mais original corpo do trabalho em filosofia politica de Chomsky esta firmemente no seu passado (falamos, afinal de contas, de um anciao com 95 anos de idade!).

      Como frisei acima, sobre a substancia do texto, concordamos inteiramente.

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    2. Terá sido exagero meu recorrer à expressão de Jô Soares do «cocó à bomba atómica» para caracterizar a dispersão de temas sobre os quais Noam Chomsky se pronuncia mas, mesmo que não se equipare a um "jornalista" «da secção de opinião de um Público ou de um Observador», uma comparação para mim aceitável é que seja, nessa dispersão "académica" um equivalente a um Boaventura Sousa Santos, embora, evidentemente, com uma ressonância muito superior, por ser americano e por escrever em inglês.

      Mas, já tendo ficado por aí mesmo uma outra vez, faço notar que não fui eu que repesquei Noam Chomsky para um tema de um poste que era completamente outro.

      Aliás, Chomsky faz-me lembrar uma avaliação mordaz de uma tese, avaliação essa que se atribui a Marcello Caetano: citando de memória e na opinião do antigo presidente do Conselho, era uma tese que continha ideias inéditas e interessantes, mas era uma pena que as ideias interessantes não fossem inéditas e que as ideias inéditas não fossem interessantes.

      Não sendo um leitor daquilo que escreve, é como me sinto quando leio o pouco que leio daquilo que Chomsky escreve: aquilo a que atribuo valor, já tinha lido noutro lado. O que é novo, é disparatado. Sobre as disciplinas que o notabilizaram: não percebo nada.

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