06 junho 2024

SERÁ QUE A «ÉTICA PINA MOURA» CONTINUA A SUBSISTIR POR AÍ DE FORMA MENOS ASSUMIDA?

O título acima parece-me um exemplo acabado de um exercício deliberado - e descarado - para distorcer a natureza do que está em causa no caso, que se arrasta pelos jornais, da indemnização da actual secretária de Estado Cristina Dias. Apresentado da forma como o antigo secretário de Estado Sérgio Monteiro o tentou fazer ontem no parlamento, até parece que existem dois compartimentos estanques, o da legalidade e o da ética, e que, na opinião dele, por aquilo que se tem vindo a saber, o caso transitou do primeiro para o segundo, sendo este mais benigno. Está a tentar vender-nos a história que as coisas se apresentam menos graves do que se queria fazer crer. Mas a história da oportuníssima - e acelaradíssima - saída de Cristina Dias do conselho de administração da CP em Julho de 2015 não se pode nem deve compreender da forma distorcida como o antigo governante a tentou estruturar. Tudo o que se tem vindo a saber a esse respeito é condenável do ponto de vista ético, com a notável particularidade de, tendo sido dadas várias oportunidades a Cristina Dias, o substancial do caso não tem sido rebatido por ela. Que aquilo que ela fez foi uma pulhice, parece adquirido; que tenha sido ilegal, isso admito que possa ser duvidoso. Agora o que é penoso é ter de explicar a este antigo governante - Sérgio Monteiro - o quanto é indesejável manter governantes em funções quanto adquiram a reputação de terem cometido umas pulhices, independentemente de esses gestos poderem ser admitidos por legais. Tudo isto nos remete, por causa da argumentação de Sérgio Monteiro e do raciocínio que lhe está subjacente, para uma famosa frase proferida há mais de 18 anos pelo defunto Joaquim Pina Moura e que fez escola: «A ética da república é a ética da lei». É uma confusão cultivada deliberadamente por quem traz uma má reputação à classe política e na aparência, atravessando o espectro político e mesmo de forma mais envergonhada, com este exercício de argumentação de Sérgio Monteiro, a ideia parece ter e manter raízes.

Sem comentários:

Enviar um comentário