O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, nasceu em 1974. O sinal em cimento da fotografia acima já seria então uma imagem familiar nas nossas estradas e ele teria quanto muito um ano quando das nacionalizações maciças das empresas de transporte e da sua fusão na Rodoviária Nacional. E, de entre os inúmeros pecados que se podem assacar a essa empresa, a despreocupação em manter uma rede nacional de transportes rodoviários não terá sido um desses pecados. A haver problemas nos serviços – e havia-os, muitos, múltiplos – eles deviam-se mais ao desempenho individual dos funcionários de uma empresa enorme que nascera imbuída de um espírito laxista do que à postura institucional de uma organização preocupada em reduzir os serviços para destinos considerados deficitários, como muito anos depois veio a acontecer. Só posso especular sobre a frequência com que, durante a infância na sua Mangualde natal, Sérgio Monteiro terá sido utente dos serviços da transportadora rodoviária única e que memórias guardará do serviço prestado. Mas não é aceitável ouvi-lo dizer, quarenta anos depois:
As afirmações de Monteiro possuem uma ideologia subjacente e essa não é criticável (há argumentos atendíveis para que os grandes sistemas de transporte metropolitano sejam suportados pelas metrópoles que servem); apelam para uma conflitualidade entre a grande e a pequena urbe e essa, porque é forçada (Mangualde é um concelho médio com 20.000 habitantes), é de um gosto no mínimo duvidoso; mas, sobretudo, são falsas porque o que ele possa saber bem é que nasceu depois do tempo das populações da Mangualde que invoca terem tido transporte público organizado que, suponho, continuam a manter. Querendo passar por ser um orgulhoso filho da terra, Sérgio Monteiro devia sabê-lo; em alternativa, sabendo-o está a ser demagogo. É por estes pormenores que há que reconhecer como o discurso político actual de figuras governamentais como Sérgio Monteiro se parece aproximar, estranhamente, de outros episódios, do lado oposto do espectro político, em que o passado se podia tornar num período imprevisível.
Ademais do seu neoliberalismo desbragado, Sérgio Monteiro tem ainda contra ele o azar nada despiciendo de ser fisicamente um autêntico sósia do Pee-Wee Herman...
ResponderEliminar... além de que de facto ou é pouco amigo da verdade, ou conhece muito mal a sua própria terra, nomeadamente o centralíssimo Largo do Rossio, onde se situa a estação rodoviária local...
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