14 junho 2015

A ESQUERDA QUE NÃO É PARECIDA COM A OUTRA ESQUERDA


As peripécias associadas à recente visita de Felipe Gonzalez à Venezuela (acima) são uma recordação de uma verdade recorrente, de como, quando se chega a certos princípios e liberdades fundamentais, continua a ser fundamental fazer a distinção entre a esquerda democrática e a outra que o não é. Para evidenciar a distinção, mas cingindo-nos a exemplos sul-americanos, compare-se a conduta recente de Maduro e do seu governo na Venezuela com a de Allende e o seu governo de Unidade Popular no Chile, quando a extrema-esquerda do MIR o resolveu desafiar frontalmente (abaixo, a notícia é do Diário de Lisboa de então – edição de 7 de Agosto de 1972). Foram episódios entretanto convenientemente enterrados por detrás do infeliz e injusto destino de Allende em Setembro de 1973 às mãos de Pinochet, mas que não deixaram de existir, apesar da sua inconveniência actual.
Fosse Salvador Allende de uma certa outra esquerda e a ocasião e o pretexto teriam sido mais do que propícios para esmagar os rivais, num processo que em muito se assemelharia ao que Lenine havia feito a partir de 1918 na Rússia aos sociais-revolucionários ou aos mencheviques e tantas outras vezes repetidos noutros lugares. Mas não, aquilo que a tal outra esquerda designaria por os desvios do MIR, foram tolerados. Em prática de tolerância é um contraste colossal com o que hoje parece existir na Venezuela, 43 anos depois, naquela recepção a um antigo e prestigiado secretário-geral de um grande partido socialista europeu (PSOE), que se tornou numa vergonha. Creio que é importante recordar mais uma vez isto, quando até um jornal de direita como o i faz uma reportagem de rua a pretexto dos dez anos do seu falecimento e quase transforma Álvaro Cunhal num avozinho simpático.

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