Em Dezembro de 1925, já o rumor se espalhara que havia algo de fortemente suspeitoso com as notas de 500$ com a efigie de Vasco da Gama (acima) e as pessoas formavam filas intermináveis às portas das delegações bancárias para as trocar, indiferentes à inclemência da chuva (abaixo). A burla de Alves dos Reis acabou por não ter o impacto que se temia na estrutura financeira da economia portuguesa, mas a verdade é que, à época, não vimos nenhum banqueiro a assumir as certezas da benignidade representada pela injecção do dinheiro da emissão suplementar de Alves dos Reis (quase 1% do PIB português de então) antes de a crise estar claramente ultrapassada. É dessa mesma forma que se têm de perceber as declarações prudentes feitas por Mário Draghi quando o tópico são as consequências de um default na Grécia. Com uma outra escala, com uma cobertura noticiosa moderna, será que voltaremos a ver fotografias como esta abaixo, abrangendo toda a população grega forçada a trocar neodracmas por euros?...
Há o contraste com a prudência de Draghi, a antevisão de um jornalista especializado como Wolfgang Münchau (conhecido aqui pelo blogue pela alcunha carinhosa de professor Eurobambo) que adora prever e que não manifesta dúvidas quanto à melhor atitude que a Grécia deve adoptar: não temer optar pela ruptura. Pode até ter razão, mas a modéstia mandá-lo-ia não mostrar assim a pretensão de ter contemplado todos os cenários de evolução possíveis na eventualidade dessa decisão. Num outro contexto, já vi a estrutura da argumentação invocada por Münchau, a de que vale a pena precipitar uma situação pior a curto prazo mas que depois de o caos diminuir a economia iria recuperar rapidamente. Vi essa mesma argumentação invocada, por exemplo, há uns cem anos, quando os responsáveis das potências se precipitaram para a Grande Guerra na convicção que ela se travaria num curto prazo de meses e que depois tudo iria recuperar rapidamente. Só que não foi bem assim: travou-se uma guerra de quatro anos a uma escala e mobilizando recursos que quase ninguém suspeitaria antes de ser travada. À Grécia poderão não restar grandes opções mas eu não teria a confiança assertiva de Münchau de que o futuro é só aquilo que ele acha possível...
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