15 junho 2015

A LEGIÃO DE IMBECIS QUE SOMOS TODOS NÓS

É preciso ser-se um Umberto Eco para que aceitemos sermos tratados todos por imbecis. Porque a lógica implacável do fenómeno que ele descreve, a promoção do idiota da aldeia à categoria de detentor da verdade, é de nossa responsabilidade, ao nos dispensarmos de escrutinar aquilo que ele nos diz. Ao contrário do que aconselha o escritor, não creio que seja vocação dos jornais modernos arranjarem equipas de especialistas para filtrarem as informações da web, e dar-nos conselhos se um site é confiável ou não. Porque os próprios há muito deixaram de ser confiáveis. O rigor exemplar não lhes aumentou as tiragens, nem a notoriedade, nem o prestígio - não os faz sobreviver. Os especialistas que a comunicação social tem pretendido são aqueles que melhor consigam modificar a realidade de acordo com aquilo que quem produz a informação pensa que são os desejos de quem a consome¹. O rigor e a verdade, tantas vezes bisonhos, deixaram de ser o objectivo principal de uma substancial parcela da informação disponível, submetidos agora ao valor de espectáculo que a mesma pode propiciar. Ausente da comunicação social, a responsabilidade da filtragem do que é difundido e publicado tornou-se por isso nossa, colectiva. A felicidade é que nunca antes, qualquer um de nós dispôs de uma facilidade tão grande de usar meios de pesquisa que permitam aferir o rigor do que aparece publicado na web. O que antes custava uma demorada ida a uma biblioteca hoje googla-se: um nome e se, por exemplo, o autor da tese da conspiração sobre o 11 de Setembro tem também mais textos publicados sobre a Área 51 e os extraterrestres, já não nos podemos queixar de embuste. Sabemos do que o homem é especialista... Mas não é isso que acontece na esmagadora maioria das vezes e os resultados à escala social parecem ser (aí estou completamente de acordo com Umberto Eco) embaraçosamente medíocres. Além da promoção dos imbecis, as novas tecnologias estão a forçar uma remodelação das nossas desculpas tradicionais para a nossa ignorância e ingenuidade.

¹ Pode ser embelezá-la mas pode também ser enegrecê-la, como o fazem Medina Carreira ou Paulo de Morais.

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