05 junho 2024

COMO É QUE O DISCURSO DE ISRAEL EVOLUIU EM 60 ANOS

5 de Junho de 1964. Numa sessão realizada no Overseas Press Club em Nova Iorque, o primeiro-ministro israelita da altura, Levi Eshkol (1895-1969), proferiu um discurso em que negava o expansionismo de Israel para além das fronteiras que alcançara em consequência da Guerra israelo-árabe de 1948. Convém explicar que o discurso fora proferido diante de uma audiência composta primordialmente por jornalistas, não apenas os correspondentes de outros países sediados nos Estados Unidos, que são a razão de ser do Clube OPC, mas também os próprios jornalistas americanos, todos interessados em compreender quais as intenções do governo israelita face aos seus vizinhos árabes. As passagens mais significativas do discurso apareciam publicadas na edição do dia seguinte do New York Times. E o que Eshkol dissera é que eram os líderes árabes que levantavam erradamente a perspectiva que os israelitas se queriam expandir para lá das fronteiras que haviam obtido, enquanto, paradoxalmente, se recusavam a garantir as fronteiras existentes. A garantia de Eshkol é que a expansão económica indústria e agrícola antevista por Israel não necessitava de mais espaço do que aquele que então dispunha, e que aquilo que Israel mais precisaria nessa fase era de evolução técnica e científica, não de expansionismo. À noite, Eshkol fora jantar com o embaixador americano nas Nações Unidas, o antigo candidato presidencial democrata Adlai Stevenson (1900-1965). O primeiro ministro de Israel aparecia naquela altura internacionalmente como uma pomba...

Outra história associada a Eshkol, que é mais vezes evocada, é que a intenção de Israel nesta época seria a de projectar internacionalmente uma imagem que lembrasse a figura de Sansão, com as sua forças e fraquezas bíblicas. Pessoalmente, prefiro esta outra história que aqui publico, porque não está trabalhada para efeitos de propaganda. Embora não se possa responsabilizar pessoalmente Levi Eshkol por tudo aquilo que veio a acontecer no Médio Oriente depois de 1964, este é um discurso que vale a pena ser recordado em toda a sua hipocrisia sessenta anos depois de ter sido proferido, neste momento em que as tropas israelitas continuam as suas operações militares em Gaza e continuam a proliferar os colonatos instalados pelos israelitas em toda a Cisjordânia, como se vê no mapa abaixo.

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