12 março 2024

O «EFEITO CALIMERO» QUE COSTUMA ATACAR OS PALERMAS DEPOIS DE PERDEREM AS ELEIÇÕES

A prova que as eleições do passado Domingo correram mal para todos, menos para aqueles que votaram no Chega, constata-se nestas «análises reconstrutivas» em jeito de «efeito Calimero» que aparecem publicadas no Observador. Calimero, para os que não o conheçam, era um pintainho que passava o tempo todo a queixar-se de tudo o que lhe acontecia. A culpa nunca era dele. Se os resultados apurados até agora fossem convincentes, no PSD deviam todos estar muito contentes por ter ganho as eleições, e não estar a fazer contas aos deputados suplementares que teria eleito se as coisas não se tivessem passado como passaram como é o caso da notícia acima. Com a argumentação à Calimero, aquilo que a jornalista Alexandra Machado escreve (e tantos outros que a acompanham na argumentação), é um enredo de vitimizações disparatadas: "Ainda fará correr muita tinta o fenómeno ADN nas legislativas deste ano". Só correrá a tinta que os Calimeros quiserem fazer correr a esse respeito, porque os votos estão escrutinados e não há exercício de agregação hipotética de votos que transforme a vitória do PSD numa maioria parlamentar robusta, esqueça-se lá que fosse absoluta. Este é a refutação deste queixume disparatado, em síntese.
Refutando-o, ao disparate, em maior detalhe e em primeiro lugar, convém frisar que a ADN era uma formação política que já existia e que já concorrera às eleições legislativas de 2022. Portanto, e embora não sendo dito, também não é descartado, a ADN não foi propositadamente formada para se beneficiar da confusão entre a sua sigla e a da AD. Muito pelo contrário e em segundo lugar, percebeu-se desde o início que foram os estrategas do PSD que fizeram questão de ir recuperar a sigla histórica da AD (Aliança Democrática). E notou-se que a insistência fora do PSD, quando o preço a pagar pelo uso da sigla AD foi a inclusão do PPM que é dirigido por um troglodita (Gonçalo da Câmara Pereira) que passou toda a campanha fechado num armário para não ser visto (agora soltaram-no...). Em terceiro lugar, a tese de que os cem mil votos recebidos pela ADN nestas eleições foram todos (ou quase todos) votos roubados à AD é plausível, mas não passa disso mesmo: de uma tese, que se torna difícil confirmar ou refutar. Só se pode deduzir que a ADN não podia ter decuplicado a sua votação de 2022 para 2024 (por sinal, o Chega e o Livre triplicaram-na...). Contudo, em quarto lugar e mesmo que se admita que aquela tese seja verdadeira, o que há que aceitar, em vez do «efeito Calimero»que parece estar a atacar alguns dos eleitores da AD, é que existe uma franja de eleitorado (que posso estimar em 5% do total - ou seja 100.000 votos na ADN/1.810.000 votos na AD), franja essa de eleitorado que, ao confundi-las, mostra uma ignorância e um analfabetismo político que são um embaraço ao fim de quase 50 anos de Democracia. Recorde-se que nesses 50 anos de Democracia já se realizaram 18 eleições legislativas semelhantes às que tiveram lugar anteontem. Repetindo precisamente os mesmos procedimentos na cabine de voto. Já vai sendo tempo de nos deixarmos de atribuir as responsabilidades por tal ignorância à sociedade que deve educar os eleitores, e assacá-las a quem se demite individualmente de estar devidamente informado politicamente, a ponto de cometer tais trocas. Portugal já não tem as taxas de iliteracia de 1975!... Se as pessoas não sabem ler é por responsabilidade própria. Finalmente, em quinto e último lugar, há que dizer que existem desde há décadas outros casos de formações políticas que se podem prestar a confusão nos boletins de voto e nunca se assistiu a este «efeito Calimero»: veja-se abaixo o caso do PCP-PEV e do PCTP/MRPP que se identificam ambos por símbolos com uma foice e um martelo.

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