Ainda bem que a greve dos jornalistas portugueses de hoje não teve repercussão na difusão da notícia acima (ao contrário de outras notícias do noticiário internacional, mesmo sem greves...). A notícia é oriunda dos Países Baixos, e versa o impasse político que se vive naquele país. Recapitulando o que por lá aconteceu desde há três meses e comparando com o que acabou de acontecer em Portugal. Em Novembro de 2023, há três meses e meio, o PVV, partido político da extrema-direita holandesa liderado por Geert Wilders, ganhou as eleições gerais, recolhendo quase 2,5 milhões de votos (23,5%) correspondentes a 25% da representação parlamentar (37 lugares). Embora o Chega português só tenha ficado em terceiro lugar nas eleições de 10 de Março passado, estes resultados do PVV comparam-se, sem desmerecimento para o Chega, com o 1,1 milhão de votos (18%) e 21% da representação parlamentar (48 lugares) que acabaram de ser alcançados pela formação de André Ventura. Mas a comparação termina aí...
O facto de, nos Países Baixos, o seu partido ter ficado em primeiro lugar, entregou a Geert Wilders a responsabilidade de ser ele a ter de promover as iniciativas para a formação de uma coligação que apoiasse o novo governo holandês que ele viesse a formar na sequência daquelas eleições de Novembro de 2023. E embora o ritmo a que essas negociações decorrem possa ser, naquelas paragens da Europa, absurdamente lento (a Bélgica já esteve mais de ano e meio à espera de um novo governo!), a notícia de hoje (que acima se destaca) é que, ao fim de mais de três meses de esforços baldados, Geert Wilders desistiu de prosseguir as negociações para a formação de um executivo. Agora a iniciativa terá de passar para outro dirigente de outra formação política e a tarefa afigura-se ainda mais complicada. Para quem, como nós em Portugal, se prepara para assistir ao mesmo processo, só que com a formação de extrema-direita (o Chega) no papel oposto ao que desempenho até agora a holandesa, é interessante perceber que o fosso que separa as formações de extrema-direita das da direita democrática é, não apenas profundo, como também se vê por este exemplo que esse fosso não dependerá da posição negocial - mais activa ou mais passiva - dos intervenientes. Haverá aspectos que são estruturalmente muito difíceis de ultrapassar.
Previsivelmente, aquilo que acontecerá entre nós será uma disputa feroz entre os maiores intervenientes políticos imediatos - Marcelo, Montenegro, Ventura, Pedro Nuno, António Costa ou Lucília Gago - num jogo para se vitimizarem e desresponsabilizarem de um (mais do que) previsível impasse político, que será muito semelhante àquele que já há três meses está em curso nos Países Baixos.
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