14 março 2024

A BRIGADA DO REUMÁTICO

(Republicação)
A 14 de Março de 1974 tinha lugar em São Bento uma demonstração de lealdade ao regime por parte das mais altas patentes das Forças Armadas, num episódio que veio a ser designado, posterior e desdenhosamente, pela Brigada do Reumático. Numa passagem premonitória do que viria a ser a sua ultrapassagem (e do resto do generalato) pelos acontecimentos, ouve-se o orador acima, o General Leite Brandão (Chefe do Estado-Maior do Exército) a proclamar (ao 1:10): «...as Forças Armadas não fazem política...» A proclamação era de uma hipocrisia indescritível: Leite Brandão até chegara a ser deputado à Assembleia Nacional entre 1953 e 1957! Mas já pouco interessaria, porque iria ser apenas a primeira de muitas hipocrisias durante os quase dois anos que se seguiriam. O 25 de Abril estava a seis semanas de distância e o início do PREC - Processo Revolucionário Em Curso - à distância de um ano, época em que as Forças Armadas fizeram tanta política que houve quem, de dentro delas, se concebesse a substituir os partidos políticos, ao contrário daquilo que ficara prometido pelo programa do MFA de Abril de 1974.
Significativo daqueles tempos de censura, era preciso aprender a ler o que acontecera e que não podia ser escrito explicitamente. Abaixo pode ver-se a forma como o Diário de Lisboa noticiou os acontecimentos. O mais importante dos conteúdos da primeira página (imediatamente abaixo) é, não o discurso do Presidente do Conselho Marcello Caetano, mas o anúncio da nomeação do novo Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Joaquim Luz Cunha (o que não se podia dizer é que o anterior titular do cargo, Francisco da Costa Gomes, fora afastado porque faltara ostensivamente à cerimónia). Outro indício de que algo anómalo mas politicamente significativo se passara é a realização de uma renovação ministerial conforme se pode ler numa página interior do mesmo jornal.

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