«- (...) passámos por tantos sacrifícios, para agora vermos um governo exibir satisfação pelas agências de rating, afinal, não nos baixarem ainda mais no degrau do lixo? Fizemos tudo isto para que o primeiro-ministro possa dizer do seu regozijo por a situação não ficar pior, quando o que devíamos era ficar melhor? Creio que entra pelos olhos adentro que aquilo que justificou a criação deste governo e desta solução no parlamento não está a provar a sua razão de ser no dia a dia. »
Com o tempo, apercebi-me do quão é importante preservar assim transcritas as passagens de alguns discursos da traulitada política, assim como é importante explicar sucintamente a conjuntura em que são proferidos. Depois de um breve período de promoção noticiosa os detentores das fontes tendem a fazê-las desaparecer e a denúncia das inconsistências (inúmeras e enormes!) do discurso político tendem a ser feitas por quem dispõe, profissionalmente, de fontes e meios próprios. Bem pode Pedro Passos Coelho tentar fazer-nos esquecer com aquele discurso de exigência, que ele também tem de responder por quatro anos e meio de governação e, no caso concreto daquele discurso, por uma ausência de resultados no que concerne à evolução da qualificação da dívida portuguesa. Veja-se em baixo como foi a evolução dessa notação nas três empresas até ao seu abandono do poder. Para tornar os quadros mais perceptíveis adicionei o logo do governo em funções.
Não vou comentar detalhadamente os gráficos, a não ser para corrigir o título do inicial, o referente à Standard & Poor's: é que aquela agência de notação só colocou o rating de Portugal em lixo em finais de 2012, quando o governo de Passos Coelho já estava em funções há ano e meio. Mas o que é verdadeiramente importante, e que serve de síntese de qualquer dos casos, é que o governo PSD/CDS se mostrou incapaz nesses quatro anos e meio de convencer qualquer das agências a retirar à dívida portuguesa a classificação de lixo, aquela que tanto parece indignar agora Pedro Passos Coelho. Esse é que era um dos objectivos dos tais tantos sacrifícios de que fala.
Mas não é tudo... Indo pesquisar ao passado, ao dia 24 de Março de 2011 (dia em que, como se pode ver pelos gráficos, a S & P e a Fitch baixaram simultaneamente o rating da dívida portuguesa), temos estas declarações confiantes do futuro secretário de Estado Carlos Moedas: com as reformas que um futuro Governo social-democrata vai aplicar, as agências ainda vão subir o rating de Portugal (note-se que este estava ainda, naquela época e nas três agências, vários graus acima do nível de lixo...). E prosseguia: assim que os mercados incorporem a informação de que o PSD vai respeitar as metas do défice e fará tudo o que for necessário para que se cumpram essas metas até porque foi o PSD que sempre anda atrás do Governo para cortar, essas agências voltarão a dar credibilidade a Portugal. O resultado é aquele que está à vista, com o requinte de apreciarmos Passos Coelho agora a criticar António Costa por não fazer aquilo que ele também não conseguiu fazer... Quanto a Carlos Moedas, e como prémio de tanta presciência, o mesmo Passos Coelho promoveu-o a comissário europeu... Quando desta polémica a propósito de Durão Barroso não me consigo esquecer de como, cada escolhido num estilo próprio, a comissão europeia tem sido o destino da nata da intelligentsia portuguesa...
Excelente.
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