A revista britânica The Economist é única e parece guardar o segredo da produção destes gráficos que nos induzem a concluir muito mais do que os textos que os acompanham. O que acompanha este gráfico destina-se a defender Obama e a sua asserção do quanto é remota a probabilidade de se ser vítima de um ataque terrorista nos Estados Unidos - é menor do que o risco de se afogar na banheira. Porém o gráfico que o acompanha vale, em informação, imensamente mais do que isso.
Tomando por referência da intensidade da actividade terrorista o número de mortes que ela causa, conclui-se, para começar, que se vivem tempos bem mais pacíficos do que no período da Guerra Fria. A diferença para pior que é sentida pela opinião pública actual dever-se-á sobretudo à forma de apresentar as acções terroristas: naqueles tempos históricos das décadas de 1970 e 1980 os problemas do Ulster eram britânicos e os da ETA espanhóis; mas agora dizem-nos que os atentados de Madrid estão ligados com os de Londres (e com os de Paris e de Bruxelas), todos sob a égide majestática da Al-Qaeda surgida a 11 de Setembro de 2001. É essa ameaça comum que nos unirá a todos como alvos, a acreditarmos na versão. Já os esforços de unificarem, os autores dos atentados sob uma mesma motivação e um mesmo comando torna-se, muitas vezes, ridícula.
Em contraste e em retrospectiva, é curioso perceber como, não tendo na altura tido ligações aparentes entre si, os atentados terroristas na Europa Ocidental perpetrados pelas mais variadas organizações terroristas radicais esmoreceram significativa e coordenadamente depois do fim da Guerra Fria. Não seria propriamente a União Soviética, nem qualquer dos outros vencidos da Guerra Fria, que criariam as organizações radicais que o praticavam mas constata-se que o desaparecimento do apoio logístico terá tido impacto na capacidade operacional de todas essas organizações. Mas isso eram tempos em que os Estados Unidos não se preocupavam muito com terrorismo. Só teria interesse quando tivesse um lado humano, a história de uma herdeira rica que era, primeiro raptada, para depois aparecer convertida à causa...
O golpe mais subtil do gráfico terá sido o cuidado de desdobrar o Ocidente entre Estados Unidos e a Europa Ocidental. Os Estados Unidos têm um acontecimento incontornável, os atentados de 11 de Setembro, e um outro, bastante menor mas que se deseja que seja o mais contornável possível, que foi o atentado de Oklahoma. E são eles dois, na amplificação do primeiro e na omissão do segundo que determinam a agenda mediática mundial a respeito do terrorismo. O inimigo é islâmico e vindo do exterior e as ameaças do radicalismo político interno não são para considerar. E devido à hegemonia que os Estados Unidos exercem na agenda mediática, aquilo que aconteça na Europa Ocidental costuma ter de se conformar a essa realidade. Com que reacções teríamos de contar se em França, por exemplo, se formasse um partido radical islâmico, mas disposto a concorrer às eleições?
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