Mais uma vez reitero a minha indiferença quanto ao desfecho do resultado da eleição do próximo secretário-geral da ONU. Mas isso não impede que siga os acontecimentos relacionados e que aceitasse pelo valor facial a posição formal que, havendo quatro candidatos de países da União Europeia nos dez (acima) que estão na corrida ao cargo - um português, um eslovaco, uma búlgara e um esloveno, sendo os dois primeiros os mais bem posicionados nas sondagens prévias - a União mantivesse uma atitude de prudente neutralidade. Afinal descobre-se que não é bem assim. De acordo com pessoas cuja opinião respeito sobre estes assuntos, estará em curso uma manobra patrocinada por Berlim e também por Bruxelas que implicará o lançamento de uma candidatura de última hora cuja imposição, um pouco brusca demais, já terá provocado alguns desentendimentos entre Berlim e Moscovo. Recorde-se que, pelas regras de funcionamento da ONU herdadas de 1945, a Rússia, por ser membro permanente do seu conselho de segurança, possui mais poder do que a Alemanha naquele organismo. Assinalo isto para que se constate quanto as diplomacias dos pequenos países (Portugal, Eslováquia, Bulgária, Eslovénia) continuam tão isoladas como sempre estiveram, mesmo que agora pertençam a blocos políticos onde se invocam tantos princípios políticos bonitos. Vendo o assunto pela nossa perspectiva nacional, se antes Guterres perdesse, perderia; mas se agora Guterres perder, perderá contra Merkel e Juncker. Depois espantem-se... Beethoven não terá culpa mas a sua Ode à Alegria arrisca vir a tornar-se num futuro próximo, pelo descrédito, na melhor evocação sarcástica da hipocrisia europeia.
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