Para os distraídos, note-se que entrámos no mês Setembro, para o dia 15 do qual está prometida a conclusão da acusação contra José Sócrates. O caso tem vindo a arrastar-se há tanto tempo que há já algumas conclusões sólidas que dele se podem extrair. Em primeiro lugar, que José Sócrates está politicamente morto. Se outras intenções tivesse, ele que as esqueça. Mesmo que possa haver ainda quem se agarre às tradicionais proclamações de distanciamento, neste momento só quem tem andado distraído é que não terá formado uma ideia concreta sobre o caso. E verifica-se que, ao contrário de outros casos célebres que dilaceraram outras opiniões públicas, como aconteceu com o caso Dreyfus em França (1894-1906), a campanha mediática não tem sido particularmente favorável para o reu em potencial. Mesmo que se saiba que o que se sabe é seleccionado há imenso que fica por esclarecer.
Ou os esclarecimentos são inverosímeis. Já foi o tempo em que a conversa acerca de José Sócrates podia perturbar a paz de um jantar alargado de família, como acontecia na França da transição do Século XIX para o XX a propósito de Dreyfus, como é retratada pela caricatura de Caran d'Ache abaixo. Mas nestes últimos jantares, os defensores da inocência do nosso antigo primeiro ministro já terão tido dificuldade em explicar a natureza da amizade incondicional que o liga a Carlos Santos Silva. Mas convém não fazer confusões: problema distinto da percepção pública é a questão judicial. E aí, 664 dias para deduzir a acusação desde o momento em que Sócrates foi detido (21 de Novembro de 2014), transformam-se num monumento à incompetência dos agentes da justiça, tanto mais que estes sabiam de antemão quanto o processo iria ser escrutinado. Não há desculpas possíveis.
Mas ficarei surpreso se a data de 15 de Setembro foi cumprida...
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