- «É uma posição ideológica que..., é legítima do ponto de vista político, que é uma determinada maioria que governa ou que é apoiada (sic) decide devolver salários, devolver pensões, só que é um problema: tem que ir buscar o dinheiro a algum lado. E, dum ponto de vista que é tributar a posse de património imobiliário, parece fazer sentido, mas ela já é bastante tributado (sic) e quando, por exemplo ele se diz que se tributa só para ricos... Ora, nós podemos dar um exemplo duma família que até nem ganha..., nem tem muito excedente para se conseguir considerar classe média alta ou rica que tenha um apartamento avaliado em seiscentos mil euros em Lisboa ou no Porto e que tenha herdado uma casa na província. Casa de família, que tenha recuperado. Foi reavaliada. Logo ali faz superior a quinhentos mil euros e portanto já está a pagar. E é uma família que pode viver sem muito rendimento. Isto de facto é classe média.»(...)
Esta é o princípio da transcrição do comentário de José Gomes Ferreira a respeito daquilo que a redacção da SIC Notícias baptizou sobre o novo imposto sobre os imóveis. Confesso que me intriga - e que gostaria de ver quantos quartos teria - o tal de "apartamento avaliado em seiscentos mil euros..." Mas isto é assim mesmo: está aberto a debate.
Num outro contexto de debate da iniquidade da distribuição da riqueza, que esse, já não despertou a atenção da SIC Notícias (nem de qualquer outro órgão de comunicação social português, que me tenha apercebido...), há coisa de pouco mais de um mês, um economista brasileiro do FMI chamado Carlos Goés apresentou um estudo refutando as conclusões a que chegara o economista Thomas Piketty no seu famoso livro O Capital no Século XXI. Na altura, cheguei à notícia lendo o espanhol El País, porque por cá não dei que se tivesse abordado o assunto. E hoje, foi também através do Le Monde francês que fiquei a saber da resposta do economista. O estudo era técnico e maçudo, assim como a resposta também o é, mas aquilo que gostaria de transcrever e publicitar é o último parágrafo daquela. Escreve então Piketty nessa resposta:
Um último ponto: gostaria de realçar quanto este tipo de controvérsias me parecem perfeitamente natural e sãs para o debate democrático. Haveria quem preferisse que os «especialistas» das questões económicas chegassem a uma conclusão entre eles, a fim de que o resto da sociedade pudesse beneficiar das conclusões que se imporiam (é, por exemplo, o ponto de vista expresso neste artigo publicado no Le Monde). Compreendo o ponto de vista, ao mesmo tempo que o considero ilusório. A pesquisa em ciências sociais, de onde a economia não se consegue dissociar, por muito que alguns o pensem, é e será sempre balbuciante e imperfeita. Não tem vocação para produzir certezas absolutas. Não existe uma lei económica universal: o que existe é uma multiplicidade de experiências históricas e de dados imperfeitos, que necessitam de uma análise paciente para que se tente tirar daí algumas lições provisórias e incertas. Cada um deve apropriar-se dessas questões e desses materiais para formar a sua própria opinião, sem se deixar impressionar pelos argumentos de autoridade de uns e outros.
Ora, se não fossem os argumentos de autoridade, de que sobreviveriam naquelas redacções tanto José Gomes Ferreira (uns) quanto Nicolau Santos (outros)?...
Ora, se não fossem os argumentos de autoridade, de que sobreviveriam naquelas redacções tanto José Gomes Ferreira (uns) quanto Nicolau Santos (outros)?...
Olá. De novo :-). Desta vez para dizer que estou inteiramente de acordo. Consigo e com o Piketty.
ResponderEliminarOlá.
ResponderEliminarNão me irá levar a mal que eu recorde as últimas palavras que li de si: "Não se preocupe, não mais o incomodarei."
Faz-me lembrar o título daquele filme do 007 (o último com o Sean Connery, por sinal): "Nunca mais diga nunca"...