27 setembro 2016

«MON AMI MITERû

Durante uns bons vinte anos, a expressão mon ami miterã, pronunciada na sua versão o mais aportuguesada possível, foi uma piada recorrente da política portuguesa. Nos tempos quentes que se seguiram ao 25 de Abril, Mário Soares não perdia oportunidade de invocar quem eram os seus aliados europeus e o nosso circuito anónimo das anedotas pegou-lhe na expressão, pronunciada com um sotaque de fazer vergonha até a um emigrante do bidonville do banlieue. Mas as fotografias da época (1974/75) mostram-nos a substância da amizade. Como o olhar trocista que Mitterrand dedica a Soares na fotografia acima, sugestivo do fraco conceito em que ele teria o português, olhar esse que é perfeitamente retribuído no desinteresse como Soares se fixa algures na fisionomia de Mitterrand, enquanto este explica algo que ele considerará muito sério. A esta distância temporal, tantas biografias escritas sobre os dois, percebe-se quanto se tratava de dois egos demasiado semelhantes de inchados para que qualquer um deles pudesse acomodar genuinamente o do outro.

2 comentários:

  1. A Mitterrand, os seus adversários políticos alcunhavam-no não sem propriedade, considerando até o que aqui se diz, de "Faraó". Por seu turno, o outro retratado nunca terá chegado a tão grande magnificência, mas ainda assim, em pleno regime republicano, conseguiu criar uma quase nova família real - os Soares.

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  2. A magnificência - gostei da expressão - é fenómeno que impressionará apenas quem os veja - a qualquer deles - à distância. São coincidentes os relatos destrutivos de quem os conheceu de perto. Quanto à formação de um clã, a comparação acaba por resultar lisonjeira para João Soares e a irmã, tal a qualidade da concorrência.

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