A notoriedade mediática crescente de José Gomes Ferreira, associada à gaffe recente dos holandeses que o transformaram num virtual ministro das finanças português, fizeram-me lembrar Walther Funk, o ministro da Economia (Reichswirtschaftsminister) do III Reich entre 1938 e 1945. Walther Funk fora um ambicioso jornalista que se especializara em questões económicas, cuja carreira sofrera uma inflexão significativa a partir dos 40 anos, quando em 1931 se desligou do jornal para onde trabalhava e se filiou no partido nacional socialista (NSDAP). Funck começou por ser deputado, depois foi ocupando cargos de maior responsabilidade mas foi um ministro cuja carreira, mesmo no seu apogeu, decorreu sempre à sombra do todo poderoso Hermann Goering (o que não o impediu de vir a ser julgado e condenado no tribunal de Nuremberga). Isso não o impedia de gostar de produzir discursos e de gostar de se rodear de equipas de trabalho que pensavam muitas coisas para o futuro da Europa depois da vitória alemã. Não fossem as circunstâncias e o teor de alguns discursos de Funck qualificá-lo-iam para um dos pais fundadores da Europa, com temas como a reconstrução europeia, o pragmatismo alemão, o planeamento a uma escala continental ou a contribuição para a criação de um sentido de comunidade económica mais forte entre as nações europeias. Nesses anos iniciais da Segunda Guerra Mundial, quando a iniciativa ainda pertencia à Alemanha, iniciativas patrocinadas pelo Reichswirtschaftsministerium reuniram dirigentes empresariais alemães, holandeses, belgas e suecos de onde saíram recomendações integracionistas que antecipavam estranhamente (ou não) algumas, das ideias (re)propostas quando da constituição da CEE - por exemplo, a importância do estabelecimento de pautas aduaneiras comuns para as importações que fossem provenientes de fora da Europa. Nos seus discursos Walther Funk mostrava-se um discípulo dilecto da escola económica alemã, onde eles conseguem elaborar em profundidade sobre os problemas económicos abstraindo-se das suas implicações políticas e ideológicas. Sobre os economistas alemães, diz-se a propósito e em jeito de laracha que, sobre o keynesianismo, eles se desdobram em dois grupos: os que não leram Keynes e os que não o perceberam. Naquela altura, quando questionaram John Maynard Keynes sobre o conteúdo dos discursos pan-europeus de Walther Funk, a sua resposta foi significativa do que os distanciava: por ele, não havia nada de mal em planear a recuperação europeia (estava-se em 1941/42), o grande problema era saber se se poderia confiar num regime autocrático como o nacional socialismo alemão para a promover. O tempo e a evolução da guerra vieram dar razão a Keynes, porque as (boas) intenções de Funk tiveram que se ir diluindo, a atitude da Alemanha tornou-se cada vez mais coerciva sobre as economias dela dependentes para as submeter às necessidades prementes da Guerra e aos ditames de Adolf Hitler. Hoje, apesar da proliferação de alertas contra o fascismo, parece-me que não há Hitlers mas o espaço aparece-me repleto de Funks que continuam a acreditar que há uma espécie de economia que se apresenta decantada de qualquer implicação política e/ou ideológica.
Sem comentários:
Enviar um comentário