Foi a ler uma entrevista dada este fim de semana ao Expresso pela sua dirigente Frauke Petry que me apercebi quanto a ascensão da Alternativa para a Alemanha (AfD) tem vários traços de semelhança com a que ocorreu há 30 e poucos anos com os Verdes (die Grünen), de que à época a figura mais mediática era Petra Kelly (1947-1992). Mas não é apenas nem sobretudo pelo facto de ambos os movimentos serem encabeçados por mulheres de idades aproximadas; aliás, nos dias que correm, isso banalizou-se. Recorde-se porém que, em 1983, os Verdes alemães, que haviam recebido 1,5% dos votos na eleição legislativa precedente de 1980, estrearam-se no Bundestag com 5,6% e 27 lugares em 498. No ano seguinte (1984), também entraram no Parlamento Europeu com 8,2% e 7 eurodeputados em 81. Quanto ao AfD, crescendo do que será o outro lado do espectro político alemão, ainda só conseguiu 4,7% nas eleições legislativas de 2013, e assim não conseguiu entrar no Bundestag (onde se precisa de um mínimo de 5%), mas nas eleições europeias do ano seguinte (2014), já se fizeram representar em Bruxelas com 7,1% dos votos e 7 eurodeputados. O extremismo na Alemanha é sempre observado com desconforto, há sempre o espectro do NSDAP de Adolf Hitler que começou por alcançar votações semelhantes às referidas mas que acabou com 44% dos votos e a apoderar-se absolutamente do poder. Mas, se os votos dos Verdes na Alemanha na década de 1980 podem hoje ser analisados retrospectivamente como uma terceira via resistente a um status quo que dividia a Alemanha e os deixava, aos alemães, desconfortáveis naquela situação (os da Alemanha Oriental não tinham direito de se exprimir), não é despropositado abandonarmos alguns preconceitos ideológicos e questionarmo-nos se esta ascensão eleitoral do AfD não é uma expressão atempada e adaptada aos tempos de um desconforto semelhante, agora com a imigração e com os custos da Alemanha (não querer) ser a superpotência europeia. Afinal, e lembrando entrevistas de então de Petra Kelly, eu recordo os sobrolhos franzidos como as suas profissões de pacifismo eram então acolhidas do lado Ocidental. Mas isso acontecia noutros círculos que não o dos jornalistas. Pelo contrário, junto destes, se bem recordo, Kelly gozava até de uma simpatia que - neste encadeado de analogias - só acentua o contraste com a hostilidade como a entrevista do Expresso a Frauke Petry foi conduzida. E se Kelly parecia ser a negação dos alinhamentos da Guerra Fria, Petry parece-me a resistência aos consensos de Bruxelas.
Percebo a pertinência e até a necessidade de existirem forças políticas que possam representar todo o espectro político nas democracias. Mas não gosto, assumindo o meu preconceito ideológico, do aumento do eleitorado que se revê nestas ideologias extremistas e xenófobas. Não me parece que seja essa a resposta à ditadura de Bruxelas. Mas também não sei qual é.
ResponderEliminarPetra Kelly tinha por companheiro um antigo General da Bundeswehr, veterano da Frente Leste, que depois de ter passado à reserva descobrira as virtudes da ecologia... Mas ainda assim,que par mais improvável!..
ResponderEliminarChamava-se Gert Bastian. Foi ele que a matou, suicidando-se de seguida.
ResponderEliminar