Através do You Tube tive o privilégio de assistir à parte da audição parlamentar de Sérgio Figueiredo, director de informação da TVI, em que este é questionado por Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD. Escrevi privilégio porque considero tratar-se de um excelente momento televisivo pela vivacidade da troca de impressões entre ambos. Suponho que os profissionais da TVI também o reconheceriam, considerado o perfil vivaz das contratações recentes que os vimos fazer para comentadores de programas de futebol. Nesse capítulo, reconheça-se que a TVI apresenta um plantel único (acima) e programas raros. O diálogo travado entre Carlos Abreu Amorim e Sérgio Figueiredo (abaixo, a primeira e a segunda intervenções) foi também vivaz e raro e estou convicto que a sua transmissão em horário nobre garantiria um esplendido share de audiência naquele mesmo segmento dos que se deliciam com as altercações entre Manuel Serrão e Pedro Guerra e o outro novo do Sporting de que ainda não fixei o nome. Mas, se os profissionais da TVI reconheceram a excelência do momento televisivo que o seu director protagonizou, constate-se que não se deu por nada: o próprio canal sintetizou mais de uma hora de troca de acusações num vídeo com a duração de 1:07. Ora um minuto deve ser mais ou menos o quádruplo do tempo útil com uma ideia que se pode extrair de uma edição típica do celebrado programa Prolongamento TVI24 (e o vídeo desta semana tem a duração de 1:45:42...). Carlos Abreu Amorim pode-se exprimir com a mesma entoação de Manuel Serrão e exibir a mesma compleição de Pedro Guerra, mas costuma dizer coisas muito mais importantes e interessantes do que qualquer um deles. Tanto assim, que é minha impressão que, mesmo sem ter ouvido todas as interpelações dos deputados presentes, quanto ao assunto que os levou àquela comissão, Sérgio Figueiredo e a TVI saíram da audição bastante enxovalhados. Não tivesse sido assim e a cobertura noticiosa do acontecimento teria sido outra.
O que nos leva a um outro lado da questão. Quando de um muro por parte da comunicação social tradicional, como neste caso parece propício vir a acontecer, os vídeos postados no You Tube são uma alternativa. Não foi bem o caso, mas a famosa montagem em que Zeinal Bava comparecia numa outra comissão parlamentar e onde repetidamente invocava a memória para justificar-se da falta dela foi uma criação - creio - do You Tube, e teve um efeito arrasador sobre a respeitabilidade do próprio. É o mais famoso caso de um assassinato naquelas circunstâncias. Também ao You Tube se podem ir buscar outras intervenções em que o bombo da festa é o mesmo Zeinal Bava, como a que então catapultou Mariana Mortágua para a fama, e há outras anteriores, e infelizmente menos famosas, em que o mesmo Bava se mostra com um outro espírito, altaneiro, em que, mais do que a recusa em responder a questões de Bruno Dias do PCP, se regista o estilo em que a recusa é expressa, acobertada pelo comportamento de Miguel Macedo do PSD, que presidia à comissão (o que nos dá vontade de dizer nos dois casos: Cá se fazem, cá se pagam!). O que é importante reter é que tanto bloquistas como comunistas, por vezes os outros partidos também, são useiros e vezeiros em irem para estas comissões brilhar para depois tirarem proveito desses brilharetes exibindo-os no You Tube. O que estranho é que, neste caso de Sérgio Figueiredo e da TVI isso não tenha acontecido. O PS cumpriu, publicando entretanto as intervenções dos seus deputados Eurico Brilhante Dias e - de um estranhamente cordato - João Galamba, os outros três partidos destacaram-se pela ausência (no You Tube) e a estrela do dia daquela comissão terá sido mesmo a excelente peixeirada entre Carlos Abreu Amorim e Sérgio Figueiredo, em que o último aparece na posição impossível de defender os seus jornalistas de terem feito uma cagada das antigas. Mas parece deduzir-se daqui, e relembre-se a animação que foi, todos ao mesmo tempo, a arriar em Zeinal Bava, que há uma cenografia por detrás do que acontece, estabelecida em função das prioridades dos partidos políticos. Cada partido é mais amigo da Verdade e de chamar a atenção para Ela conforme as circunstâncias.
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