Pela forma como foi pré-publicitada parece-me muito interessante a visita que Marcelo realizou a Berlim. E, logo por azar, na altura em que ele perdeu a graça mediática e em que os elogios a tudo o que fazia esmoreceram significativamente! É interessante porque a presidência portuguesa assume claramente que os assuntos europeus se tratam em Berlim. Manda quem pode, obedece quem deve, talvez o episódio possa servir de lição para que a comunicação social portuguesa deixe de andar a pedir opiniões a um qualquer contínuo do Berlaymont. Por outro lado, manda a verdade reconhecer, também o Joachim a quem o Marcelo acima aponta o dedo é uma figura nula na hierarquia política alemã - ele bem pode anunciar que não se quer intrometer nas decisões da União Europeia mas a verdade é que nem sequer tem capacidade para tal. Falou-se sobre refugiados (que não querem vir para cá, por isso nos podemos mostrar tão disponíveis para os acolher...) para não ter de se falar com o presidente alemão sobre a Primavera e as andorinhas. Tão pouco se deve acreditar que a reunião de pouco mais de meia-hora de Marcelo com a Angela produzirá frutos quanto aos objectivos que foram amplamente anunciados antes da viagem, ainda cá em Lisboa. Quem lida e/ou lidou com alemães sabe perfeitamente que eles costumam ser muito pouco sensíveis a pressões deste género; e a haver consequências deste género de gestos, existe uma probabilidade maior de que elas possam ser contraproducentes. Mas o problema das sanções a Portugal apresenta-se abafado pelo que irá ser decidido para Espanha. E o que for decidido para Espanha parece depender dos resultados das eleições que ali terão lugar em 26 de Junho. Se o PP e o Mariano ganharem, olhar-se-á para Espanha com muito mais bonomia do que se o resultado for diferente. De toda a forma, o desfecho delas escapará ao controlo de Marcelo, que só foi comentador da TVI, e não da Antena 3... Mas o que creio ter sido mais importante nesta iniciativa de Marcelo é que, para ele, mesmo que percamos a absolvição dos pecados no caso deste raid não produzir os resultados publicitados, ao menos a recusa alemã, tornada ostensiva, pode passar a constituir um capital de queixa para que mostremos que a nossa presença na União nos termos em que existe está a tornar-se insatisfatória. A acontecer, se acontecer, será uma mudança de atitude, boa para desenjoar de anos e anos de uma diplomacia feita de uma melíflua aquiescência e concordância que, prometendo-os, não parece ter obtidos grandes resultados... a não ser em perspectivas muito particulares.
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