Tanto quanto me lembro, o meu amigo Alberto foi a primeira pessoa que conheci que era do PPD e do Benfica. Era-o mas o facto de os associar na mesma frase não lhe granjeava grande reputação como ideólogo nem como desportista nesses tempos pioneiros da Democracia portuguesa em que o PPD era PPD. Mal sabíamos nós que o desdenhávamos então por simples, quanto o Alberto era um génio pioneiro incompreendido como o fora o seu homónimo Einstein. Eram tempos em que - à excepção do Alberto, daí o destaque - futebol e política eram considerados socialmente tão estanques que o próprio presidente (Eanes), quando instado pelos jornalistas a dizer qual o seu clube, mandava responder sem se rir (era a especialidade dele) que nunca fizera uma opção clubística...
Os tempos evoluíram. Vinte anos depois as pulsões clubísticas dos políticos já tinham passado a ser toleráveis e o palácio de Belém era ocupado por um sportinguista apaixonado (Sampaio). Porém, em contraste, Pedro Santana Lopes bem depressa percebeu, quando se tornou presidente do Sporting em 1995, que corria o risco de entrar por um beco sem saída para as suas ambições políticas e renunciou ao cargo. Os dois mundos não se misturavam embora tendessem a assemelhar-se nos métodos. Mas os estados de alma eram considerados distintos. Não era por acaso que por esses anos Guterres ganhava eleições afixando cartazes dizendo razão e coração.
Contudo, nos métodos, e porque nos estamos a tornar numa Democracia cada vez mais consolidada, as eleições internas nos clubes têm tendido a assemelhar-se cada vez mais a eleições internas nos partidos políticos que as promovem - só para citar os exemplos mais recentes comparem-se os resultados norte-coreanos que reelegeram tanto Jorge Nuno Pinto da Costa no Futebol Clube do Porto como António Costa no Partido Socialista. Mas o mais importante, e que tem dado cada vez mais razão ao Alberto, é o fenómeno estranho a que eu tenho assistido de há vinte anos para cá, em sentido inverso àquilo que seriam as minhas expectativas, é que em vez de ser o futebol a sofisticar-se, com os adeptos a tornarem-se mais exigentes para com o cumprimento das promessas desbragadas e demagógicas dos candidatos a presidentes dos clubes, confrontando estes com as promessas por cumprir como o fazem com os políticos, o que se tem vindo a assistir é ao inverso, constata-se aquilo a que poderei chamar de futebolização da política.
Em pessoas que me habituara a considerar as suas opiniões políticas, embora discordando delas, surpreendo-me agora a desdenhá-las porque as opiniões parecem todas assentes no axioma que o-meu-clube-não-comete-faltas-na-grande-área e que portanto todos os penaltis assinalados contra são fraudulentos. Se calhar esta evolução dever-se-á a que estas pessoas estarão a ser mais genuínas. Ainda bem (para elas). E ainda bem para o Alberto que tinha razão já há quarenta anos...
Ele que me perdoe o desdém com que o julgávamos há quarenta anos porque há uma fracção muito significativa da sociedade, incomensuravelmente superior ao que sempre pensei existir, que tem uma concepção idêntica de como se pensam e se argumentam opções clubísticas e políticas. Andaram foi estes anos todos envergonhados em o assumir...
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