30 maio 2016

O AMARELO COMO COR DO ULTRAMONTANISMO?

Por coincidência - ou talvez não... - há precisamente 182 anos Joaquim António de Aguiar (1792-1884, acima vê-se a rua de Lisboa a que foi dado o seu nome) enquanto ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, promulgava a Lei que extinguia todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer outras casas das ordens religiosas em Portugal com a nacionalização das suas propriedades. Pela iniciativa e pelo carácter anti-clerical da Lei o seu promotor recebeu a alcunha (que nunca mais perdeu atá à sua morte, cinquenta anos passados) de Mata-Frades. Mas muito menos folclórico e muito menos conhecido que a famosa alcunha é o facto de Aguiar estar a desempenhar aquele cargo apenas há cerca de um mês quando a Lei foi promulgada. Normalmente também não se compara a sua iniciativa com a de outros irmãos seus da maçonaria para a contextualizar: 54 anos antes (em 1780) o Imperador José II da Áustria extinguira 600 conventos e mosteiros austríacos e húngaros, pertencentes a ordens contemplativas que ele considerava inúteis, e 44 anos antes (em 1789) fora Talleyrand (por sinal bispo de Autun, à data dos acontecimentos) que apresentara um projecto de decreto (que fora aprovado) à Assembleia constituinte francesa para que os bens eclesiásticos em França fossem colocados à disposição da Nação (um eufemismo para que eles fossem nacionalizados). Houve quem antes quisesse acabar com uma parcela substancial da vida monástica na Europa e houve também quem o quisesse fazer cinicamente para equilibrar as contas públicas, mas isso não parece interessar-nos. Alcunhas, assim como outros aspectos superficiais do conflito entre o anti-clericalismo e o ultramontanismo (como, por exemplo, a questão da cor dos protestos), isso é que parece ser tipicamente português.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.